sexta-feira, 30 de julho de 2010

Haverá luz no fim do túnel da impunidade?

Por Ruth de Aquino



Oh, pedaço de mim. Oh, metade afastada de mim. Leva o teu olhar. Que a saudade é o pior tormento. É pior do que o esquecimento. É pior do que se entrevar. Oh, metade arrancada de mim. Leva o vulto teu. Que a saudade é o revés de um parto. A saudade é arrumar o quarto. Do filho que já morreu. Oh, metade amputada de mim. Leva o que há de ti. Que a saudade dói latejada. É assim como uma fisgada. No membro que já perdi.

Era uma vez Rafael Mascarenhas. Um rapaz de 18 anos que tocava guitarra, queria ser músico como o pai, estudava engenharia e vivia com a mãe, a atriz Cissa Guimarães, no Rio de Janeiro. Bonito, alegre, talentoso e popular. Um atropelamento brutal, num túnel fechado ao trânsito para manutenção, tirou sua vida, quando praticava skate com dois amigos. Seu corpo foi jogado a quase 60 metros de distância. O atropelador é outro Rafael, de sobrenome Bussamra, estudante e lutador de jiu-jítsu, de 25 anos.

Pela violência e estupidez, o drama comoveu o Rio e estilhaçou a vida de quem mais o amava. Sua mãe é descrita como alegre. Para quem a conhece, essa é uma meia verdade. Cissa é esfuziante. Transborda com seu riso o espaço da praia ou de uma festa. Rafael era seu caçula. “Pedaço de mim”, de Chico Buarque, abre a coluna por traduzir de forma dilacerante o sentimento materno de perda.

Rafael foi atropelado no Túnel Acústico, extensão do Túnel Zuzu Angel, que liga a Lagoa a São Conrado, à 1h30 de terça-feira. Sem repressão das autoridades, skatistas costumam usar túneis bloqueados por oferecer asfalto liso, longos trechos em declive e menos risco de assalto ou atropelamento, grande ironia.

Ao luto, soma-se muita raiva. Primeiro, do rapaz que entrou em alta velocidade num túnel interditado, fazendo o contorno ilegal por uma das saídas de emergência. Não se sabe se apostava um “racha” ou “pega” com amigos. A destruição do carro revela a velocidade incompatível com o perímetro urbano. Não tinha consciência de que poderia tornar-se um homicida?

Rafael Bussamra fugiu. Abandonou Rafael Mascarenhas no chão como se fosse um traste, um cachorro. Ligou para os bombeiros depois de fugir. A 200 metros do acidente, uma patrulha com dois PMs o abordou e o liberou. Foram 13 minutos de conversa, registrada por câmeras da CET-Rio. Os policiais disseram depois não ter percebido nada de errado no Siena semidestruído.

O que fazem à noite patrulhas da PM pagas para nos proteger? Perguntei ao abalado comandante Mário Sérgio. “Cabe aos PMs nas ruas investigação imediata, contato com o Centro de Operações para saber origem e status do carro e do motorista. O carro tinha faróis apagados, exibia sinais claros de acidente grave. Eles foram afastados, estamos investigando descaso ou coisa pior”, disse ele. Propina, talvez? Os PMs não sabem que existe “prisão em flagrante”? Enquanto isso, Rafael agonizava durante meia hora, até chegar a ambulância chamada por um morador da área.

Um atropelamento brutal matou um rapaz de 18 anos.
A sentença máxima para o culpado: quatro anos

Rafael Bussamra não foi logo à delegacia. O pai levou o carro às 5 horas da manhã para uma oficina. E pediu urgência no conserto. “Quanto mais rápido fizer o serviço, melhor”, teria dito, segundo o funileiro Paulo Sérgio Muglia. O mecânico interrompeu o reparo ao receber uma ligação dos Bussamras. Policiais recolheram o carro. A placa caíra dentro do túnel, identificando o culpado.

O atropelador só foi à delegacia 17 horas após o crime, com advogado. Negou alta velocidade, disse que voltou pela galeria interditada porque queria comer um lanche no Leblon.

Nenhuma manutenção foi feita pela prefeitura no túnel naquela madrugada. É um dos piores túneis no Rio, escuro, sujo. Não havia câmeras ligadas no local do acidente.

O que acontecerá com os PMs? No ano passado, o governador Sergio Cabral chamou os policiais do caso AfroReggae de “vagabundos, bandidos, marginais” e disse que seriam “expulsos da PM em rito sumário”. Detidos e liberados, cumprem funções administrativas no mesmo batalhão de antes e ganham o soldo normal. Estão “à disposição da Justiça”.

Que Justiça é essa?

Maior escárnio é a sentença que aguarda Rafael Bussamra. Se for condenado por homicídio culposo (sem intenção de matar), poderá pegar dois a quatro anos de prisão.

O que essas penas ridículas e brandas ensinam aos brasileiros? Que a vida não tem valor. E que não há luz no fim do túnel da impunidade.

Fonte: G1|Época

Antes de ensinar, aprender


Como professoras avessas ao esporte podem ensinar educação física para crianças?

Francine Lima

“Agora vocês estão na sala de aula, então vamos acalmar e sentar quietos. A brincadeira ficou lá fora”, diz a professora, tentando conter a euforia das crianças que vêm correndo da quadra. Os alunos, suados e ainda quentes, não escondem a alegria pelos feitos que alcançaram lá fora. Alguns tiveram êxitos elogiados pela turma, e havia uma sensação de que novas conquistas estavam por vir. Aquilo não era o recreio, e sim a aula de educação física, que não é brincadeira e faz parte do currículo escolar. Mas, dentro da sala, é hora de se concentrar em coisas mais importantes. O jeito é abrir o caderno e fazer a tarefa que a professora daria.

A cena é fictícia, mas descreve o que, na visão de Luiz Otávio Neves Mattos, doutor em educação e professor do departamento de Educação Física da Universidade Federal Fluminense, acontece em muitas escolas reais. Mattos abordou o tema em seu livro Professoras primárias x atividades lúdico-corporais (Autores Associados, 2006), adaptado de sua dissertação de mestrado pela PUC do Rio. Segundo ele, a professora primária, aquela que dá lições de matemática, português, ciências e estudos sociais aos alunos do primeiro ao quinto ano, não costuma se importar muito com o que acontece na quadra – ou em qualquer espaço onde aconteça a educação física. Para ela, diz Mattos, o aluno só aprende dentro da sala de aula e só se diverte do lado de fora.

Mas isso não é verdade. Quem fez faculdade de educação física aprendeu que as brincadeiras e os jogos ensinam muito à criança. O profissional que trabalha do lado de fora da sala com as crianças, usando bolas, cordas, pneus ou mesmo nenhum material, conhece todos os aprendizados envolvidos no que parece ser só diversão. São muitos. Nas brincadeiras de correr ou nos jogos de chutar, as crianças desenvolvem habilidades motoras, a atenção, a capacidade de concentração, o respeito às regras, a autoestima e uma série de outros ganhos que serão úteis a vida toda, em qualquer coisa que elas façam. Inclusive nas aulas de matemática.

O problema é que a professora primária, especialmente aquela das antigas, não estudou educação física. A formação dela no curso de pedagogia não deu toda essa ênfase na importância do movimento. O mesmo acontece com professoras do ensino infantil, que atende crianças de até cinco anos, mas com um agravante. Nas escolas em que não existe professora especialista em educação física para turmas do infantil, são as professoras de sala que promovem as atividades corporais.

Será que desse jeito será possível promover a cultura do movimento entre as crianças, tão necessária à saúde nos dias de hoje? Será que, sem o exemplo positivo da professora que está todos os dias com as crianças, desde o início de seu desenvolvimento, elas absorverão os valores e conhecimentos necessários para sentir-se bem com seu corpo e com suas habilidades, cuidar dele e adotar uma vida ativa?

A educadora física Shelly Blecher Rabinovich debruçou-se sobre o trabalho dessas professoras para seu mestrado, que resultou no livro O espaço do Movimento na Educação Infantil (Phorte, 2007). Ela diz que, embora se considere que as professoras generalistas dão conta do recado, elas não têm a formação necessária nem para entender o que precisa ser ensinado na educação física, e por que. “Já vi professora pedindo para crianças de três anos correrem em volta da quadra”, diz Shelly.

Não é exatamente culpa delas. Segundo as pesquisas de Mattos e de Shelly, essas mulheres que hoje têm de ensinar crianças pequenas a aprender brincando e em movimento não tiveram professoras como as que elas precisam ser. Em muitos casos, a educação física que elas tiveram na escola foi ruim, com pouca ou nenhuma valorização dos menos aptos e muita frustração derrubando a autoestima. Quando fizeram a faculdade, a separação entre o valor do corpo e o do intelecto foi reforçada. Boa parte delas é sedentária e está acima do peso. Como se livrar de toda essa bagagem de registros desvalorizadores da prática esportiva e se transformar de repente na professora atleta? É claro que não há solução pronta.

Uma vez identificado o problema, a missão de Mattos e Shelly passou a ser ajudar essas professoras a entender melhor o que precisam fazer. Mattos deu aulas para professoras primárias no curso de pedagogia de outra universidade fluminense, e Shelley, hoje doutoranda da USP, dá palestras para professoras do infantil. O conteúdo: tudo que as brincadeiras e os esportes têm de bom a oferecer não só às crianças, mas também ao trabalho das professoras em classe. Não é fácil convencer essas mulheres de uma hora para a outra de que os jogos deveriam fazer parte dos projetos de aulas delas, e não ficarem segregados do resto do conteúdo. “Eu tenho conseguido aumentar o interesse delas mostrando como a educação física auxilia no desenvolvimento cognitivo. Se o objetivo for só motor, elas não se envolvem”, diz Shelly.

Fonte: G1 | Época

A turma da botecagem de Campo Grande, Cariacica, está “toda toda” com o resultado do concurso Roda de Boteco.

Evelize Calmon

A turma da botecagem de Campo Grande, Cariacica, está “toda toda” com o resultado do concurso Roda de Boteco. É que um dos representantes da região, o Postinho Bar, levou o prêmio de melhor boteco, no último sábado, durante a festa de encerramento do evento, o Botecão.

O petisco eleito pelos bons de copo da Grande Vitória foi a Feijoada frita (R$ 12). A porção leva 15 unidades, e os bolinhos de feijoada vêm recheados com couve, linguiça e bacon, guarnecidos com molho de pimenta biquinho. Embora seja realmente deliciosa, a iguaria não é a única favorita dos frequentadores do point.

O Trio Italiano, inscrito na Roda de Boteco 2009, também faz o maior sucesso por lá, ao combinar queijo Minas, polentinha frita com parmesão e linguiça de porco (R$ 19). Boa companhia, inclusive, para a loira gelada, disponível em long neck ou garrafa de 600ml.

O Postinho – que, como o nome indica, fica anexo a um posto de gasolina – também serve almoço executivo, comida japonesa e churrasco à la carte. O corte mais cobiçado é a picanha, que sai por R$ 49,90 na versão completa, com 500g de carne, farofa, vinagrete, fritas, arroz e feijão tropeiro. A porção serve até três pessoas, garantem os irmãos Deilton e Vanderlei Vieira, proprietários do bar.

Como todo bom botequim, o Postinho conta com uma estufa recheada com jiló, escudiguim, rabada, costela de boi e linguiça no feijão, entre outros clássicos da baixa gastronomia. O ambiente, com capacidade para 150 lugares, é aberto e ventilado, e as paredes exibem camisas de times de basquete e futebol autografadas, uma delas pelo Rei Pelé.

Endereço: Av. Jerusalém, 6, próximo ao Supermercado Calvi, Campo Grande, Cariacica
Telefone: (27) 3343-0887.

Fonte: Gazeta Online

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Ficha Limpa e controle social sobre as eleições

Por Márlon Jacinto Reis*

A Lei da Ficha Limpa tornou-se uma realidade. Foi uma conquista essencialmente coletiva. Diversas iniciativas parlamentares e até um projeto de lei apresentado pelo então Presidente Itamar Franco estavam embolorados nas gavetas do Congresso. E dali não teriam saído senão por obra de uma grande rede social, capaz de mobilizar os milhares de voluntários que ao longo de quase dois anos coletaram 1,6 milhão de assinaturas.

As 46 entidades reunidas em torno do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral conseguiram essa façanha de convencer a Câmara e o Senado a apostar nesse mecanismo voltado ao aperfeiçoamento da nossa democracia.

Nenhuma nação democrática adota eleições desprovidas de sistemas de controle. Todas conhecem mecanismos de vedação a candidaturas com a finalidade de proteger a sociedade contra candidaturas que representem risco ao processo eletivo. Algumas, como a Espanha, ostentam regras de inelegibilidade que – em certos casos – já afastam dos pleitos pessoas condenadas por um só juiz, num modelo ainda mais rígido que o nosso.

Tratava-se de exercer sobre o Congresso a legítima pressão da sociedade mobilizada em favor de um objetivo comum: alijar das eleições pessoas inseridas em hipóteses capazes representá-las como risco para a higidez do processo eletivo e para a qualidade dos futuros mandatos.

A conquista da lei veio com a força da mobilização de base, à qual se acresceu a atuação de centenas de milhares de pessoas agindo por meio das redes sociais na internet, num movimento que já virou case para os estudiosos do marketing político.

Trata-se de uma teia social que vê o país não a partir de uma ala, de uma tendência ou corrente, mas que sonha com a conversão da nossa democracia formal em um espaço inclusivo de participação, onde a representação política não seja apenas uma ficção legitimante de práticas de atravancam o nosso desenvolvimento.

Estamos testemunhando agora a agilidade do Ministério Público Eleitoral, que em poucos dias conseguiu levantar informações para a apresentação de quase três mil impugnações ao registro de candidaturas. Foram identificadas potenciais candidaturas de pessoas que ostentam condenações por homicídio, roubo, fraude, desvio de verbas, contas rejeitadas, dentre muitas outras situações.

Um candidato – descoberto a tempo, felizmente – fraudou até mesmo uma certidão apresentada ao registro, tentando ocultar uma condenação por homicídio.

Tudo isso está comprovando a correção da iniciativa popular: a Lei da Ficha Limpa, além de tornar disponível maior espaço no poder político para quem não ostenta máculas em seu passado, ainda cumpre o papel de revelar os graves problemas com que ainda nos depararíamos não fosse a sua aprovação.

Resta agora confiar no Poder Judiciário como guardião da lei e da Constituição. O Tribunal Superior Eleitoral já fez a sua parte ao afirmar que a lei é não apenas constitucional, como se aplica já ao pleito iniciado, atingindo fatos pretéritos.

Do Supremo Tribunal Federal se espera atitude semelhante, que preserve a evidente validade de uma lei alicerçada na própria Constituição (art. 14, § 9º), que dá vida a princípios tão fundamentais como os da moralidade e probidade administrativas.

A base social dessa conquista é constituída pelos novos movimentos sociais: lideranças associativas independentes; defensores do meio ambiente; dos, direitos das crianças e adolescentes, das mulheres, dos negros; integrantes de comunidades religiosas sem engajamento partidário; profissionais liberais e jovens, muitos e muitos jovens de todas as partes do Brasil.

Trata-se de um processo sem volta que precisa ser compreendido por todas as instituições, inclusive pelo Poder Judiciário, onde certos apegos a fórmulas não mais aceitas devem render ensejo a reflexões baseadas numa interpretação judicial atenta à necessidade de cumprimento das promessas contidas na Constituição de 1988.

* Márlon Jacinto Reis é Juiz de Direito no Maranhão, Presidente da Abramppe – Associação Brasileira dos Magistrados, Procuradores e Promotores Eleitorais, membro do Comitê Nacional do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e um dos redatores da minuta da Lei Complementar nº 135/2010 (Lei da Ficha Limpa).

Fonte: Blog de Christina Lemos | R7

Direito e poesia


Por João Baptista Herkenhoff

A Poesia e o Direito são vizinhos. A Poesia engrandece o Direito. Só se alcança o Direito pelo caminho da Poesia. O encontro do Direito com a Poesia nem sempre é fácil.

Frequentemente ao Direito pede-se ordem. A Poesia alimenta-se da transgressão. Em muitos casos, entretanto, só se realiza o Direito pelas portas da transgressão. Que são os movimentos de desobediência civil senão a transgressão coletiva das leis?

Foi essa a estratégia de que se utilizaram Nelson Mandela e Martin Luther King, na luta contra a segregação racial (na África do Sul e nos Estados Unidos). Que é, no Brasil, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) senão a busca do direito à terra, ao trabalho, à sobrevivência, rompendo um suposto pacto social.

Pacto social apenas suposto, não um pacto efetivo porque representado por leis protetoras de um pretenso direito de propriedade, interpretadas de maneira positivista pelos tribunais. Mesmo quando a propriedade não cumpre sua finalidade social, nas balizas desse pacto mentiroso tolera-se com indiferença o desvio.

Viva a liberdade dos poetas, no seu cântico: "Nunca haverá fronteira na vida de um poeta. Sua bandeira é de luz, sua justiça é correta. Se errarem ele protesta." (Silas Correia Leite).

Mas mesmo o Poeta, cuja missão deve ser o anúncio dos mais altos ideais, pode esquecer-se da vida que o rodeia. Quando há esse esquecimento, quando a Poesia não cumpre o seu papel, merece reprovação. E como é belo quando quem reprova o poeta é o Poeta, como nestes versos de um dos maiores a poetar em Língua Portuguesa: "Ao ver uma rosa branca o poeta disse: Que linda! Cantarei sua beleza como ninguém nunca ainda! E a rosa: - Calhorda que és! Pára de olhar para cima! Mira o que tens a teus pés! E o poeta vê uma criança suja, esquálida, andrajosa comendo um torrão da terra que dera existência à rosa." (Vinicius de Moraes).

Charles Chaplin, com sua profunda sensibilidade de Artista, puxa a orelha do jurista que se divorcia das angústias humanas: "Juízes, não sois máquinas! Homens é o que sois!"

Poesia é substantito feminino. Direito é substantivo masculino. Há uma preponderante presença do masculino no Direito, a começar pela prevalência de homens nas funções judiciais. Só recentemente mulheres ascenderam aos tribunais, e mesmo assim, em total desproporção à presença de homens nessas casas.

Como escreveu Marita Beatriz Konzen, "não há que se falar em estado democrático, enquanto não eliminarmos as gritantes diferenças sociais, dentre as quais, a desigualdade de sexos."

A sensibilidade não é virtude exclusivamente das mulheres. Também os homens podem ser sensíveis, enquanto nem sempre as mulheres são portadoras de sensibilidade. Mas, em termos globais, por critérios de totalidade, a Justiça seria mais sensível se abrigasse, nos seus quadros, uma presença mais significativa de juízas.

Utopia, Paz, Participação, Igualdade, Anistia são palavras femininas que apontam para o ideal de uma sociedade fraterna. Racismo, preconceito, imperialismo, nepotismo, arbítrio são palavras masculinas que direcionam a sociedade para a exclusão e a injustiça.

O conselho de Eduardo Couture, dirigido aos juristas, deveria ser estampado nos fóruns: "Teu dever é lutar pelo Direito. Mas no dia em que encontrares o Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça". O conflito entre lei (com letra minúscula mesmo) e Justiça (com letra maiúscula sempre) é uma constante no espírito do Juiz. Creio que deva prevalecer a Justiça. Trabalhar com a pauta da lei para encontrar a Justiça é uma tarefa difícil. Porém, por mais difícil que seja a tarefa, essa busca é obrigatória.

Reprovo, com veemência, a recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pretendendo que o mérito ou demérito dos magistrados seja aquilatado pelo ajustamento de suas sentenças à jurisprudência dos tribunais superiores. Quem renova o Direito é o juiz de primeiro grau, rente à vida.

Só o juiz de primeiro grau pode auscultar o ser humano, da mesma forma que só o médico pode auscultar o coração e o pulmão do paciente.

Os tribunais, como disse Eliézer Rosa, são sempre tribunais de ausentes porque nunca têm diante de si pessoas, mas apenas autos, papéis, argumentos.

Só a contemplação pessoal dos rostos e dos dramas humanos, que transparecem nesses rostos, pode permitir ao juiz humanizar a lei, ou seja, fazer com que a lei suba às esferas da Poesia.

P.S.- Pedro Herkenhoff, que morreu num acidente de carro em 1963, quando ia assumir a Secretaria de Educação, deve estar muito triste com a situação de abandono em que se encontra a escola municipal que leva seu nome, em Vila Velha.

João Baptista Herkenhoff é Livre-Docente da Ufes e Professor pesquisador da Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha.

Fonte: A Gazeta

terça-feira, 27 de julho de 2010

Suplência questionada

A polêmica figura do suplente de senador volta a ganhar destaque nos debates políticos. Diversos motivos reacendem o questionamento sobre a legitimidade deste ator no cenário institucional.

No Paraná, 28 entidades da sociedade civil, com a OAB à frente, concentram ações em torno do movimento "O Paraná que Queremos", que prega mudanças na política estadual e nacional. Dentre as reivindicações aos candidatos à Presidência da República está o fim dos suplentes de senadores.

É a mesma bandeira defendida pelo PNBE - Pensamento Nacional das Bases Empresariais. A entidade sugere uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) suprimindo a figura do suplente de senador da forma como foi criada, isto é, sem receber o voto direto dos eleitores.

O fim da suplência sem voto para o Senado é uma dentre várias propostas das entidades de classe para modernizar a estrutura do Legislativo. Alegam que práticas políticas inadequadas ou atrasadas contribuem para emperrar avanços em diversas atividades, dificultando reformas estruturais, como a tributária.

A polêmica está no critério de escolha do suplente de senador. É diferente da regra que vive em todas as demais casas legisltivas. Na Câmara dos Deputados, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais, os suplentes disputaram mandato, portanto foram votados.

No Senado, o suplente é integrante de uma chapa na qual só foi votado o titular. Se o senador eleito falecer, renunciar ou se licenciar, assume o primeiro suplente. Caso este também deixe a Casa, a cadeira será ocupada pelo segundo suplente da mesma chapa. Muitos deles não têm o nome conhecido pelos eleitores dos Estados que representam.

Atualmente, entre os 81 senadores estão em exercício 20 suplentes. Ou seja, 25% do total não receberam sequer um voto para estar na Câmara Alta - o que para muitos é considerado uma distorção do sistema de representação. Essa questão permeia discussões no Congresso há mais de uma década sem decisão sobre mudança estrutural.

Da atual bancada dos sem-voto, composta de 20 suplentes, dois assumiram por cassação dos titulares (João Capiberibe e Expedito Júnior), um devido à renúncia de Joaquim Roriz para não ser cassado, outras quatro vagas foram ocupadas por falecimentos de senadores (Antônio Carlos Magalhães , Jefferson Peres, Jonas Pinheiro e Ramez Tebet). Além disso, seis senadores renunciaram para assumir cargo em governos estaduais: como (Roseana Sarney (MA), Sérgio Cabral (RJ), Ana Júlia (PA), Teotônio Vilela,( AL) Paulo Otávio (DF), Leonel Pavan (PB). Os outros sete suplentes assumiram em função de motivos diversos, sendo que os senadores Ideli Salvatti, Raimundo Colombo, Garibaldi Alves, José Agripino e tiraram licença para cuidar das campanhas.

A lista de suplentes dos candidatos ao Senado neste ano amplia o questionamento sobre a legitimidade desses políticos. É formada em vários Estados (como Amazonas, Piaui, Paraíba, Tocantins, etc.) por parentes de candidatos (esposa, pai, filho, irmão, tio).

Essa situação já é indicativo claro de que a legislatura do Congresso a se iniciar em fevereiro de 2011 encontrará, tal como as anteriores, resistência para modificar as regras da suplência no Senado. Justificar

Mas não é causa perdida. A união de entidades de classe, como se vê no Paraná, pode ser estendida em nível nacional e redundar em projeto de lei de autoria popular. É pressão legítima e democrática. Foi assim que a sociedade saiu vitoriosa com a aprovação da Lei do Ficha Limpa.

Fonte: Editorial Jornal A Gazeta

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Presenciou um crime eleitoral? Denuncie!

A coluna de hoje é para você que faz jus ao nome cidadão e deseja que as eleições deste ano seja mais limpa, ética e sem compra de votos ou qualquer outro tipo de abuso, seja ele econômico ou de poder. Saiba como fazer denúncias contra crimes eleitorais.

Mas antes de fazer as denúncias contra candidatos que cometem crimes eleitorais, é importante saber quais são algumas das irregularidades classificadas pelo Código Eleitoral (Lei 4.737) como crime.

· Reter título eleitoral contra a vontade do eleitor;

· Promover desordem que prejudique os trabalhos eleitorais;

· Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita;

· Valer-se o servidor público da sua autoridade para coagir alguém a votar ou não votar em determinado candidato ou partido;

· Usar de violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar, ou não votar, em determinado candidato ou partido, ainda que os fins visados não sejam conseguidos;

· Promover, no dia da eleição, com o fim de impedir, embaraçar ou fraudar o exercício do voto a concentração de eleitores, sob qualquer forma, inclusive o fornecimento gratuito de alimento e transporte coletivo;

· Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem;

· Violar ou tentar violar o sigilo do voto;

· Divulgar, na propaganda, fatos que sabe inverídicos, em relação a partidos ou candidatos e capazes de exercerem influência perante o eleitorado;


· · Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando fins de propaganda, imputando-lhe falsamente fato definido como crime;

· Difamar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de propaganda, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação;

· Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro;

· Utilizar organização comercial de vendas, distribuição de mercadorias, prêmios e sorteios para propaganda ou aliciamento de eleitores;

· Participar, o estrangeiro ou brasileiro que não estiver no gôzo dos seus direitos políticos, de atividades partidárias inclusive comícios e atos de propaganda em recintos fechados ou abertos;

· Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro, para fins eleitorais;

· Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro, para fins eleitorais;

· Omitir, em documento público ou particular, declaração que dêle devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais;

· Obter, para uso próprio ou de outrem, documento público ou particular, material ou ideologicamente falso para fins eleitorais.

Agora que já conhecemos os crimes eleitorais mais comuns, é hora de saber como denunciá-los às autoridades competentes. Lembrando que essas denúncias geralmente geram processos, sendo assim, as faça de forma responsável, sem má fé e politicagem.

TER-ES

O Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) lançou nas eleições deste ano o Prete, que é o Programa de Ética e Transparência Eleitoral. Para acessar o sistema de dique-denúncia dele, o interessado deve ligar para o número 0800 083 2010. Não precisa se identificar.

O sistema de disque-denúncia fica disponível 12 horas às 19 horas. O atendimento é realizado pelos servidores do Tribunal. Ao ligar para o 0800 o atendente se colocará a sua disposição para cadastrar sua denúncia, o qual irá gerar um número de protocolo para acompanhar o andamento dela.

PRE-ES

A Procuradoria Regional Eleitoral do Espírito Santo (PRE-ES) exerce, junto à Justiça Eleitoral, as funções do Ministério Público, atuando em todas as fases do processo eleitoral, tendo legitimidade para propor as ações de captação ilícita de votos, condutas vedadas aos agentes públicos, abuso de poder político e econômico, dentre outras, visando à cassação ou perda do registro ou diploma, aplicação de multa e declaração de inelegibilidade daqueles que violam a legislação eleitoral.

Para fazer uma denúncia, escreva para denuncia-eleitoral@pres.mpf.gov.br. Ela terá que ser preferencialmente identificada pelo nome e endereço de quem a formula e conter dados mínimos que possam levar a um início de investigação. A denúncia anônima não será automaticamente desconsiderada, porém, este fato dificultará consideravelmente as investigações.

MP-ES

O Serviço de Disque-Denúncia do Ministério Público Estadual foi criado para as eleições de 2004. De lá para cá, já recebeu centenas de denúncias envolvendo matéria eleitoral.

Com o sucesso, graças à contribuição popular e a tomada das devidas providências por parte da instituição, o serviço continuou sendo oferecido no ano de 2005, e desde então, vem recebendo denúncias de variados assuntos.

O número é 0800 283 9840 e o serviço está disponível de segunda à sexta-feira, das 09 horas às 18 horas. A ligação é gratuita e confidencial.

Fonte: Blog Política e Poder | Fernando Mendes

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Além da discussão do Código Florestal

Walter Lídio Nunes é membro do Conselho Deliberativo do Espírito Santo em Ação.

O Código Florestal Brasileiro foi emitido em 1965 e precisa urgentemente de revisão, por duas razões: não tem respaldo social nas regiões agrárias e é anacrônico para as necessidades socioeconômicas e ambientais atuais. Nas discussões sobre sua revisão, feitas pelo relator Aldo Rebelo, vários pontos e reflexões causam surpresa.

Primeiro, há a pretensão legislativa de fixar proteção ambiental num país continental com biomas tão diversificados, através de uma lei ambiental dogmática, contemplando situações ecossistêmicas e sociais diversas entre si. A lei atual tem a pretensão de generalizar a proteção ambiental sem considerar a especificidade da realidade de cada situação.

Segundo, a lei ainda é letra morta para a maioria das atividades econômicas do país, com exceção da silvicultura. Somos o único país a adotar restrições tão amplas sobre áreas já antropizadas e em plena atividade econômica.

A aplicação efetiva do Código Florestal atual imporá uma redução da área agrícola produtiva do agronegócio brasileiro. Isto vai implicar a redução das nossas exportações e o aumento do nosso custo de vida. Hoje, o agronegócio responde por 25% do PIB brasileiro e 40% das exportações brasileiras. Outro ponto é o interesse dos países, com os quais o nosso competitivo agronegócio concorre, em ver o atual Código Florestal aplicado, o que aumentaria a competitividade da subsidiada agricultura deles.

Há ainda a descoberta da emaranhada rede de ONGs internacionais que misturam interesses ambientais com interesses de grupos econômicos em interferir na legislação do nosso país. Se a questão ambiental fosse uma motivação purista, elas estariam procurando implantar o mesmo código florestal nos seus países de origem. Por que não o fazem?

Outra questão é a junção dos movimentos agrários, que querem uma reforma socialista na nossa sociedade, e buscam de todas as formas criar restrições ao competitivo agronegócio brasileiro, que veem como um empecilho aos seus objetivos. O moderno agronegócio brasileiro será sempre desenvolvimentista e capitalista para ser competitivo, o que contraria os preceitos de um modelo baseado no campesinato, que se vale de expedientes como invasões, reforma agrária racial, terras e reservas indígenas.

Os pontos expostos são preocupantes, pois atrás de uma aparente discussão do Código Florestal temos vários temas transversais que merecem atenção. Precisamos de desenvolvimento sustentável com integração das questões ambientais urgentes às atividades socioeconômicas. O que não precisamos é da manipulação que prejudica o nosso país e sua gente. Precisamos de meio ambiente para esta e as futuras gerações e existem formas técnicas e científicas de fazê-lo, sem ideologismos, manipulações e, acima de tudo, sem abrir mão da nossa soberania de construir o nosso desenvolvimento sustentável.


Fonte: ES em Ação

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Plástico chega à Antártida remota

O lixo produzido pelos homens tem chegado a áreas remotas do oceano na região antártica e o plástico é o material que mais preocupa. É o que mostra um estudo feito por pesquisadores da British Antarctic Survey e do Greenpeace a partir dos dados obtidos a bordo de dois navios ? o RRS James Clark Ross e o MV Speranza. As embarcações percorreram as partes leste e oeste da região antártica.

Leandra Gonçalves, ligada ao Greenpeace e uma das autoras do estudo, diz que foram encontrados "restos de materiais de pesca, muitas caixas plásticas e micropartículas plásticas". As sacolas, diferentemente do que ocorre em outras regiões, não foram vistas em grande quantidade. Os resultados foram aceitos para publicação na revista Marine Environmental Research em maio e serão divulgados na edição de agosto.

O texto diz que, de 69 itens vistos pelo MV Speranza, 43% eram materiais plásticos. No caso dos 59 itens observados pelo navio RRS James Clark Ross, 41% também eram plásticos. Com isso, a vida selvagem ? peixes, golfinhos, focas, leões e elefantes marinhos ? fica mais vulnerável. Eles sofrem ao engolir plásticos e podem morrer sufocados ou enforcados pelo material.
Fonte: Estadão 

terça-feira, 13 de julho de 2010

Imprensa, reciclagem e muitas porcentagens

Por Wilson da Costa Bueno

O Brasil recicla, segundo dados do Cempre – Compromisso Empresarial para a Reciclagem, mais de 90% das latas de alumínio, quase 80% do papelão ondulado e cerca de 2/3 dos pneus, índices comparáveis, para estes materiais, aos dos países mais desenvolvidos do mundo. Isso significa que estamos fazendo a nossa lição de casa e que enveredamos finalmente pelo caminho da sustentabilidade?

Se você, amigo ou amiga, tende a responder positivamente à pergunta acima, talvez seja melhor dar uma pausa , pensar um pouco mais antes da declaração final. Isso porque algumas aparências enganam e, nesse caso, infelizmente é o que acontece. Reciclar mais não quer dizer contribuir para aumentar os indicadores de sustentabilidade. O raciocínio parece absurdo, mas é fácil de entender.

Toda questão complexa, como a que envolve a trama da sustentabilidade, precisa ser vista por todos os lados e a reciclagem é apenas um deles. Se você, ensinam os sábios, ficar mirando apenas o tronco de uma árvore, deixará de contemplar a floresta como um todo. Se esta árvore for um eucalipto, e você trabalhar para uma empresa de papel e celulose, certamente estará interessado (a) na biomassa do tronco, ansioso (a) por ver a árvore deitada, porque ela só tem função (quer dizer, dá lucro) depois que tiver se transformado numa pasta. Há árvores que só servem para atender a objetivos comerciais e delas não se espera sombra, flores ou frutos. São, por excelência, contrárias à biodiversidade e chegam, inclusive, a afrontar o conceito de floresta, porque esta tem valor sobretudo quando está de pé.

A reciclagem serve aos propósitos da sustentabilidade, mas pode também mascarar alguns desvios importantes.

Quando as estatísticas indicam que estamos reciclando uma porcentagem específica de materiais (80%, 90%), elas não nos trazem toda a verdade; pelo contrário, propositalmente dissimulam uma situação nada favorável em termos de sustentabilidade. Há uma pergunta que fica sempre faltando (mas gritando dentro da consciência) e que a maioria dos empresários, dos fabricantes de latinhas de cerveja e refrigerantes, de garrafas e sacolas plásticas ou mesmo de papel esconde atrás das porcentagens: mas a produção destes materiais têm, proporcionalmente, diminuído?

Pois é, meu amigo, minha amiga, aí está o problema colocado de maneira correta. Estamos reciclando mais (nem tanto como seria necessário, como a gente ainda poderá ver) porque estamos produzindo mais e isso significa que, em vez de economizar os recursos naturais, os estamos dilapidando com maior intensidade. É como aquela história de redução do desmatamento da Amazônia: não dá para saudar 3% a menos em relação ao mês anterior porque o volume de degradação florestal é sempre alarmante. Um dia, quando houver pouco para desmatar (e esse dia promete chegar, se continuarmos fazendo esta besteira), as porcentagens de desmatamento diminuirão. É para rir ou para chorar?

A produção e o consumo dos materiais a serem reciclados aumentam sensivelmente e os que estão interessados em promover a reciclagem não estão, por outro lado, nem um pouco interessados em produzir menos e a desestimular a redução do consumo. O capitalismo tem a sua lógica e mesmo a sustentabilidade se submete a ela. Reciclar dá dinheiro, meu amigo , minha amiga, e, como todos sabemos, muito mais para os empresários e os intermediários do que para os catadores de papel, de latinhas e de garrafas plásticas.

É preciso mudar de postura, reciclar o conceito, não cair no engodo de festejar estatísticas que servem também para nublar a verdade. A reciclagem é uma alternativa, mas, de per si, não é a solução.

O que, efetivamente, precisamos é produzir menos lixo, fabricar menos latas, vidros e plásticos, consumir com mais consciência, não acreditando (porque é mesmo história da carochinha) que alguém depois irá limpar os resíduos que despejamos no planeta. Não há reciclagem que suporte tanta porcaria e, por isso, construímos cada vez mais lixões, aterros e emporcalhamos nossos rios com bagulhos de todo o tipo. Mais recentemente, iniciamos a criação desenfreada de lixo eletrônico (computadores, televisões e celulares, principalmente) e os fabricantes que pregam o “marketing verde” estão pouco se lixando para o seu destino. Você sabia que menos de 5% dos celulares são reciclados e que os computadores incluem materiais absolutamente perigosos para a vida humana e para a mãe-terra? Onde estamos enfiando tantas pilhas e baterias?

É muito bonito ver o esforço de algumas prefeituras, campanhas empresariais e de milhares de adultos e crianças que se empenham para separar o lixo, mas é lamentável constatar que menos de 10% dos municípios brasileiros fazem a coleta seletiva, ou seja, o material fica separado apenas nas latas coloridas e depois é novamente reunido em depósitos de lixo a céu aberto.

É verdade que centenas de milhares de pessoas (você já não flagrou uma delas remexendo o seu lixo na porta de casa) estão buscando algum sustento com o material jogado fora e que outros milhares de catadores (há cooperativas importantes no Brasil) vivem desta coleta penosa. Mas talvez você ignore um outro dado: a indústria é quem fica com a maior parcela do ganho deste trabalho e os pobres catadores são de novo os explorados nesta história, com um ganho médio mensal inferior a 150 reais. Algum fabricante cínico (há muitos, sabia?) é capaz de argumentar que produz mais porcaria para ajudar os necessitados e ainda pode ter a desfaçatez de concorrer a prêmio de responsabilidade social Você não lembra do raciocínio maluco da indústria tabagista que chegou a argumentar que o fumo ajudava a desonerar a previdência num país europeu porque contribuía para que as pessoas morressem mais cedo?

Dados divulgados em reportagem de Alessandra Pereira, na revista Página 22, da FGV, de julho de 2008, evidenciam que a relação entre reciclagem e meio ambiente não é também tão saudável assim. Vejamos alguns deles. A fabricação de papel reciclado incorpora também substâncias tóxicas e o mesmo acontece no processo de reciclagem de aço e de alumínio. Além disso, o pesquisador Francides Gomes da ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, demonstrou que a fabricação do papel reciclado branco gera seis vezes mais efluentes do que a do papel virgem e que também consome mais energia. Ou seja, o processo está longe de ser sustentável, a não ser que o nosso conceito de sustentabilidade seja tão cosmético quanto o praticado por indústrias agroquímicas, mineradoras, de papel e celulose e de outros segmentos insustentáveis menos votados.

A reciclagem não pode ser vista como um fim em si mesmo, o que não quer dizer que não devemos praticá-la. Muito pelo contrário: um dos pressupostos da postura sustentável é reutilizar os materiais, as embalagens, as sobras de comida (mamãe fazia bolinhos maravilhosos com o arroz que sobrava!), enfim evitar o desperdício.

Fique atento (a) ao discurso da reciclagem e não se deixe levar pelas estatísticas que falseiam a verdade. Em tempo: reciclamos menos da metade do vidro, menos de ¼ das embalagens longa-vida, 1/5 apenas dos plásticos e só 3% dos materiais orgânicos. Estamos ainda mal na fita e não pega bem continuarmos sorrindo, enquanto sorteamos geladeiras Skol para entupirmos de latinhas de cerveja, trocamos mensalmente de celular, carregamos dezenas de sacolinhas plásticas (cada vez mais vagabundas, facilmente rasgáveis e, portanto, inaproveitáveis) dos supermercados.

É preciso reciclar os nossos conceitos de reciclagem e reagirmos ao discurso cínico de muitos fabricantes que não têm a coragem de assumir a sujeira que andam fazendo por aí.

Recicle sempre, sobretudo os seus velhos hábitos de consumo.

Que a mídia brasileira seja mais investigativa e não fique servindo de “mula” ou “laranja” para empresas que fabricam latas, vidros, papel, sacolas plásticas e porcentagens, muitas porcentagens.

Uma dica: cuidado com as embalagens de agrotóxicos (veneno puro), com o resto da sua farmacinha caseira (sabia que existe, comprovadamente, uma poluição de medicamentos e que você pode estar tomando antibióticos sem querer da água da torneira de casa?), e com tudo aquilo que você anda descartando sem dó.

Em tempo: além da pergunta que os fabricantes de materiais reciclados não costumam responder, há também muitas outras que mereciam uma resposta, mas, como o espaço é exíguo, ficamos apenas com três:

1) Com os produtos transgênicos, as empresas de biotecnologia (irmãs siamesas das de agrotóxicos) estão vendendo mais ou menos veneno? Não é esse o argumento: mais sementes transgênicas, menos agrotóxicos? Será que elas, generosamente, estão abrindo mão de seu lucro fantástico com pesticidas, herbicidas etc, os produtos que na verdade as sustentam? Alguém por aí tem a chave para abrir esta caixa preta? Quem vende soja transgênica está vendendo mais ou menos glifosato?

2) Quanto de dinheiro as montadoras e os laboratórios estão remetendo para as suas matrizes? Qual porcentagem destes 18 bilhões de remessas que o Governo acaba de revelar tem a ver com as fabricantes de automóveis e de medicamentos? É para lá que anda escapando o dinheiro dos empréstimos do BNDES? Que destino vamos dar a estes milhões de carros novos que estão sendo colocados no mercado? Será que vamos ter que importar pneus usados para dar conta de tanto automóvel? E vamos continuar até quando fazendo “recall” de remédios perigosos (Vioxx, Prexige etc)? Não precisamos também reciclar as nossas políticas industriais e os nossos sistemas de vigilância?

3) Alguém tem uma idéia brilhante para reciclar o lixo atômico que Angra 3 e as outras usinas nucleares vão despejar por aqui? Você tem alguma sugestão sobre o local onde a Termonuclear poderia enfiá-lo? Pera aí: se você for malcriado, me tira fora dessa. Não vale, fui eu que fiz a pergunta.

Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.
Fonte: Eco Agência

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Exposição Internacional Einstein será aberta ao público na quarta-feira (07)

A Exposição Internacional Einstein já foi vista por mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo.
O Espírito Santo receberá, a partir desta quarta-feira (07), a Exposição Internacional Einstein, que ficará no Palácio Anchieta, em Vitória, até o dia 03 de outubro. Os interessados em conhecer a trajetória de um dos maiores gênios do século XX poderão visitar a exposição das 8 às 18 horas, de terça a sexta-feira, e das 10 às 18 horas aos sábados, domingos e feriados. A entrada é gratuita.

A exposição vai contar com diversas seções interativas, obras de arte realizadas por diversos artistas brasileiros sobre o cientista, além de objetos pessoais de Einstein, como cartas, boletim escolar e peças de vestuário usadas por ele em sua visita ao Brasil, em 1925. Também serão realizadas oficinas, palestras e apresentações culturais.

Na assinatura do contrato da Exposição, realizada no último dia 18, o secretário de Estado da Educação, Haroldo Corrêa Rocha, lembrou que essas iniciativas motivam bastante os alunos. "Nós vemos nas escolas a repercussão das exposições, como, por exemplo, a de Darwin e a de Michelangelo. Diante de uma oportunidade como essa, nossos alunos e professores não só visitam a exposição, mas também produzem sobre o tema. Nessa específica, a Ciência será o elemento motivador. Precisamos desmistificar a Ciência para os nossos estudantes e exposições como a de Einstein nos ajudam nesse processo."

Para o presidente do Instituto Sangari, Ben Sangari, a exposição contribui para desenvolver as competências necessárias para o século XXI. "O conhecimento científico deve ser o centro do nosso plano educacional no século atual. Quando inserimos a ciência na vida de nossos jovens de uma forma interessante, os motivamos a desenvolver capacidades que serão essenciais para esse século, como a competência analítica e o senso crítico", ressaltou o presidente.

Segundo o consultor científico da exposição, professor Alfredo Tolmasquim, quem for conferir de perto a exposição vai conhecer, além dos feitos científicos, um pouco da vida de Albert Einstein. "A exposição destaca um Einstein, sobretudo, humano. Um cientista que soube compreender a dimensão social da Ciência. Einstein não se preocupava só com a Ciência, mas com questões como o pacifismo e a política. Ele soube sair de seu gabinete", salientou o consultor.

A expectativa da organização é receber no Espírito Santo um público de 90 mil pessoas. A Exposição Internacional Einstein já foi vista por mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo. A versão brasileira foi inaugurada em 2008 e já passou por São Paulo e Rio de Janeiro.

Pesquisa

Albert Einstein foi um físico teórico alemão radicado nos Estados Unidos. Cem físicos renomados o elegeram, em 2009, o mais memorável físico de todos os tempos. Conhecido por desenvolver a teoria da relatividade. Recebeu o Nobel de Física de 1921, pela correta explicação do efeito fotoeléctrico; no entanto, o prémio só foi anunciado em 1922. O seu trabalho teórico possibilitou o desenvolvimento da energia atômica, apesar de não prever tal possibilidade.

Devido à formulação da teoria da relatividade, Einstein tornou-se mundialmente famoso. Nos seus últimos anos, sua fama excedeu a de qualquer outro cientista na cultura popular: "Einstein" tornou-se um sinónimo de génio. Foi, por exemplo, eleito pela revista Time como a "Pessoa do Século", e a sua face é uma das mais conhecidas em todo o mundo.

Em 2005 celebrou-se o Ano Internacional da Física, em comemoração aos cem anos do chamado "Annus Mirabilis" (ano miraculoso) de Einstein, em que este publicou quatro dos mais fundamentais artigos cientifícos da física do século XX. Em sua honra, foi atribuído o seu nome a uma unidade usada na fotoquímica, o einstein, bem como a um elemento químico, o einstênio.

Serviço:
Exposição Internacional Einstein, de 07 de julho a 03 de outubro no Palácio Anchieta, que fica localizado na Cidade Alta, em Vitória. Os horários de funcionamento são: de 8 às 18 horas de terça a sexta-feira, e das 10 às 18 horas, aos sábados, domingos e feriados.
Fonte: ES Hoje

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Beleza preservada

A indústria de cosméticos dá exemplo de consciência ambiental. Agora é a vez dos consumidores.

Jaqueline Mendes e Hélio Gomes


100% ORGÂNICA
Produtores franceses cultivam flores para a indústria de cosméticos

Poucos ramos da indústria são tão dependentes da natureza quanto o de cosméticos. Perfumes, essências e óleos extraídos de madeiras e flores são usados há milênios por mulheres e homens de todo o planeta. O que há de novo nesta história, e que muitas vezes escapa da percepção de boa parte dos consumidores, é a preocupação ambiental das grandes empresas do setor. Hoje, a maior parte delas dá exemplo de como lidar de forma sustentável com fornecedores de matéria-prima, além de policiar todas as etapas do processo industrial. Armadas de certificações acima de qualquer suspeita, elas acumulam credibilidade sem perder a satisfação do público de vista, atitude fundamental em um planeta em grave crise ambiental e de recursos naturais.

Os vários selos de certificação adotados pelas empresas de cosméticos dão a dimensão da importância da questão. “Nossos produtos carregam os selos franceses Ecocert, que atesta que 95% dos ingredientes utilizados são naturais, e Bio, que comprova que a produção é totalmente orgânica”, diz Anna Chaia, presidente no Brasil da multinacional francesa L’Occitane. Outra norma internacional cobiçada é o certificado ISO 14001, que regula sistemas de gestão ambiental, como a verificação de impactos na natureza e a reciclagem de resíduos acumulados no processo industrial. A Surya, marca brasileira conhecida por seu apelo verde, já o conquistou. “Também possuímos o certificado Cruelty-free, concedido pela Peta (instituição de defesa animal), que garante que não realizamos testes com animais”, afirma Clélia Cecília Angelon, fundadora e presidente da empresa.

NO LABORATÓRIO
Boa parte das indústrias de cosméticos já usa energia limpa em sua produção

Outra preocupação constante é o relacionamento com os fornecedores de matéria-prima. Neste ponto, há quem se responsabilize 100% e aqueles que cultivam parcerias duradouras. “Desde 1921, cultivamos plantas em nossos jardins de forma orgânica e biodinâmica”, diz a diretora-geral da suíça Weleda no Brasil, Mara Pezzotti. “Os extratos de plantas frescas são preparados no mesmo dia em que elas são colhidas, o que mantém ao máximo as características vitais da planta”, completa. Já a L’Occitane desenvolveu uma rede de colaboradores que se espalha pela região da Provence e pela paradisíaca ilha da Córsega, ao sul da França. “Não temos intermediários e lidamos diretamente com os produtores. É uma forma inteligente de tirar o que há de melhor da natureza”, afirma a executiva Anna.

Assim que a matéria-prima chega às indústrias, a atenção com as fontes de energia utilizadas no processo entra em cena. “Buscamos usar apenas fontes limpas e não provenientes de usinas nucleares”, conta Mara, da Weleda, lembrando de uma das fontes energéticas mais comuns na Europa. Outro ponto fundamental na discussão é o empacotamento dos produtos. “Uma de nossas linhas utiliza embalagens com 30% de PET reciclado. Além disso, lançaremos uma nova embalagem de polietileno verde”, diz Marcos Vaz, diretor de sustentabilidade da Natura.

Agora, cabe ao consumidor pesar a responsabilidade ambiental de cada fabricante na hora de tomar sua decisão de compra. Os fatos comprovam que a indústria de cosméticos está na frente de muitas outras neste quesito. Fica a certeza de que o preço pago por essa preciosa ajuda à Terra é um benefício a ser colhido por nossas futuras gerações.

img1.jpg

Fonte: Isto é independente