sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Portadora de deficiência visual leva esperança a outros com mesmo problema

Por Leilane Menezes
A visão começou a abandonar os olhos de Nayara Magalhães dos Santos(Foto) muito cedo. Era difícil decifrar o que diziam os livros escolares. A menina ampliava os textos e as figuras, tentava ir além da própria capacidade — o que se tornou um hábito —, mas a cabeça só doía. E nada de o mundo parecer mais fácil de desvendar. Apesar de ter nascido com uma doença grave, a retinose pigmentar progressiva (veja Para saber mais), a menina de cabelos e olhos claros foi criada para ser otimista. Nunca acreditou que perderia totalmente a visão.

Não aprendeu o braille, sistema de leitura por meio de pontos, quando era criança. A família, superprotetora, preferia acreditar que não seria necessário. Mas foi. Aos 18 anos, Nayara teve uma perda brusca na habilidade de enxergar. “Os médicos acreditam que a minha visão piorou depois que minha mãe adoeceu e ficou muito tempo no hospital. Pode ter sido o nervoso, o baque emocional”, explicou a jovem. “Não me preparei para isso porque meus pais acharam que o melhor para mim seria esconder esse problema. Eles não queriam aceitar a verdade, que teriam uma filha com uma deficiência em um mundo não adaptado”, completou.

Hoje, Nayara tem entre 15% e 20% da capacidade de ver, durante o dia. Ao anoitecer, cai para 10%. Mas a falta do sentido não a impede de ir longe. À época da piora, Nayara se preparava para o vestibular. Sonhava em cursar serviço social na Universidade de Brasília (UnB). “Estudei a vida toda em escola pública e todo mundo sabe que assim fica mais difícil. Eu não tinha acesso a nada que facilitasse a minha situação como deficiente visual”, afirmou.

Mesmo diante do problema, Nayara matriculou-se em um cursinho preparatório para o vestibular. Gravava todas as aulas, enquanto uma amiga ajudava e lia os textos para ela. E assim Nayara estudou mais de 10 horas por dia, durante um ano. Passou na segunda tentativa. “Escolhi o serviço social porque é o curso que mais trata de políticas sociais. O profissional dessa área defende um grupo vulnerável, as minorias. O primeiro auxílio que as pessoas procuram é o de um médico. A maioria deles trata a deficiência visual apenas com uma doença e não leva em consideração o social. A assistente atua justamente nesse setor”, justificou.

Mudança
Nayara conheceu um mundo diferente. Estava habituada a uma vida de isolamento: “Sofri muito bullying na escola. Tinha que me sentar sempre muito perto do quadro, às vezes tropeçava nas coisas, batia a cabeça. Aprendi a me afastar dos outros para me defender”. Na universidade, a jovem encontrou amigos, alunos como ela ou professores. Conheceu o Programa de Apoio aos Portadores de Necessidades Especiais (PPNE). Nele, a estudante tinha direito a três tutores. Eles eram alunos bolsistas que a ajudavam durante a aula e nas provas.

“Quando percebi que muitas pessoas acreditavam em mim, me vi capaz de qualquer coisa”, lembrou. Quase quatro anos depois de ingressar na UnB, Nayara deu início ao trabalho de conclusão de curso, a monografia. O tema não poderia ser outro: o acesso dos portadores de necessidades especiais ao nível superior. “Escolhi pesquisar porque há tão poucos deficientes nas universidades. É um problema que vem do ensino básico, passa pelo médio e leva a uma barreira no momento de ingressar na faculdade.” Nayara encontrou pouca bibliografia. Contou com a ajuda de computadores com leitores de tela.

Dificuldades
O trabalho trata das falhas na acessibilidade dentro da UnB. “Faltam calçadas adaptadas, tudo é muito longe. Sempre esquecem um orelhão no meio do caminho, um buraco no meio da rua. A cidade toda é assim e a universidade não é diferente”, apontou. Mas o foco da pesquisa de Nayara é mais polêmico que a questão da mobilidade. A monografia leva o título Sistema de cotas para deficientes, uma alternativa viável.

“Percebi que a quantidade de deficientes só diminuía na UnB. De acordo com pesquisas, 26 mil deficientes concluíram o segundo grau no último ano. A demanda pelo ensino superior existe. Só há 48 deficientes na UnB inteira. Desses, somente 15 têm algum problema como surdez ou na visão. Os outros sofrem de dislexia, etc.”, constatou. Nayara entrevistou os professores do PPNE e os alunos especiais. “Na minha hipótese, achei que não iam concordar com o sistema de cotas. Mas me surpreendi. Apenas um deles se colocou contra.”

Na conclusão, pela própria experiência de vida e pelo que viu na UnB, Nayara optou por defender a reserva de vagas no vestibular para portadores de necessidades especiais. “Seria uma política de equiparação de oportunidades. Algo paliativo e não permanente. Quando a universidade conseguisse atrair esse público, não seria mais necessário”, argumentou.

“Essa medida teria de ser articulada com uma política de mudança no sistema educacional inteiro, desde o ensino básico. Deveria também ser acompanhada de uma política de permanência dentro do ensino superior, como o oferecimento de bolsas de pesquisa especiais”, acrescentou. Ganhou nota máxima, o SS. Agora busca meios de divulgar suas ideias e contribuir efetivamente com a sociedade.

Nayara não deixa de surpreender. Este mês, assumiu o cargo de assistente social na Secretaria de Justiça. Foi a única que passou no concurso para essa atividade específica. Agora, acompanha jovens que cumprem medida de liberdade assistida. Vai, inclusive, visitar a casa deles e orientar as famílias para que os adolescentes não voltem a cometer crimes. “Para poder levar uma vida normal, é preciso aceitar-se. Depois, tentar ser independente, o máximo possível. E, principalmente, agarrar todas as oportunidades”, ensinou. Quem olha para Nayara não reconhece a limitação de imediato. Vê apenas uma jovem de traços suaves, maquiada com delicadeza, usando luzes no cabelo e unhas pintadas de rosa-claro. Na tarde de ontem, ela se exibia, esbelta, em um vestido verde, da cor da esperança.

"Para poder levar uma vida normal, é preciso aceitar-se. Depois, tentar ser independente, o máximo possível. E, principalmente, agarrar todas as oportunidades"

O número
26 mil
Número de deficientes que concluíram o segundo grau no ano passado em Brasília

Para saber mais
A doença

A retinose pigmentar éprogressiva uma alteração hereditária rara. Nela, a retina degenera-se de forma lenta e progressiva, conduzindo, geralmente, à cegueira. A incidência é de um caso para cada 4 mil pessoas. Nela, as células sensíveis à luz (bastonetes) da retina, que são responsáveis pela visão quando há pouca claridade, degeneram gradualmente. Os primeiros sintomas costumam começar na infância. Aos poucos, verifica-se a perda profunda da visão periférica, aquela que permite enxergar mesmo o que não é o foco principal do olhar. Nas etapas finais da doença, o portador ainda conta com uma pequena área de visão central e um resto diminuto de visão periférica. Ainda não existe cura para a doença.
Fonte: Correio Braziliense

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Canteiro de arte

Texto Marilena Dêgelo Fotos Carlos Cubi e Lufe Gomes
Como melhorar a dura realidade de quem trabalha todos os dias carregando sacos de cimento, assentando tijolos e se arriscando em andaimes? Incomodados com o sofrimento dos empregados da construção civil, o arquiteto Arthur Pugliese, 35 anos, e o administrador de empresas Daniel Cywinski, também de 35, encontraram uma solução, a princípio utópica, durante viagem a Barcelona, na Espanha, em 1999. “Diante da arte de Gaudí, pensamos em desenvolver trabalho semelhante com operários nos canteiros de obras, aproveitando a grande quantidade de entulho”, diz Pugliese.

De volta ao Brasil, eles colocaram em prática a idéia que, em 2001, deu origem ao projeto ambiental, cultural e social Mestres da Obra. O principal objetivo da ação, que envolveu até hoje mais de 1.500 trabalhadores em São Paulo, é o resgate da autoestima deles por meio da arte. Com autorização de grandes construtoras, os dois amigos montam ateliês no canteiro de obras, que recebem 20 operários liberados por uma hora do trabalho durante um mês. Para isso, contam com uma equipe de seis pessoas.

Nas aulas, eles apresentam fotos de peças de artistas famosos para inspirar os trabalhadores na confecção de objetos, muitos feitos coletivamente. “Cada um contribui com o saber que traz de sua origem, a maioria do Nordeste. Eles aprendem a ver aquele material descartado com outro olhar e a valorizar o que fazem como obra de arte”, diz Cywinski, especialista em educação ambiental.

Reconhecida como organização de interesse público sem fins lucrativos, a Mestres da Obra conseguiu este ano o apoio de empresas como Duratex e Gerdau, com base na Lei de Incentivo Fiscal. Isso possibilitou ampliar o projeto para um circuito cultural com 12 ateliês que incluem a exibição de curtas- -metragens e peça de teatro interativa, com temas relacionados à realidade dos operários. “A experiência abre a cabeça e libera a sensibilidade deles, contribuindo para melhorar suas relações no trabalho e em casa”, afirma Pugliese.

As obras produzidas nos ateliês já participaram de mostras de arte e design dentro e fora do país. Hoje, 230 trabalhos fazem parte do acervo e ficam expostos na Galeria Mestres da Obra, inaugurada em 2008, no centro de São Paulo.
Fonte: Revista Casa e Jardim

A dança da diferença

Por Vera Ligia Rangel
Há 18 anos, a bailarina Dora Andrade criou um projeto de dança que revolucionou a vida de menores em condições desfavoráveis no Nordeste. O trabalho começou na comunidade do Morro de Santa Terezinha, no bairro Mucuripe, em Fortaleza, no Ceará. A escolha da região foi feita em função de um problema social que ganhava contornos maiores e mais assustadores a cada dia. “A cidade era recordista mundial em prostituição infantil e no morro foi detectada uma migração das crianças para a praia, um espaço de risco pessoal para elas nesse contexto”, diz a bailarina. “A dança ajudou as crianças a recuperarem a autoestima e terem outra perspectiva de vida”, diz.

Nos primeiros quatro anos de existência, a Edisca foi apoiada pelo Governo do Estado do Ceará. Depois disso, estabeleceu-se uma parceria importante com o Instituto Ayrton Senna, que possibilitou a ampliação da área pedagógica, artística e de gestão, e aumentou a rede de relacionamentos locais, nacionais e até internacionais da escola.

Em 1997, as lições de amor e de arte ensinadas na Edisca chamaram a atenção da equipe de Marie Claire. A revista publicou, então, uma matéria intitulada A Dança das Severinas, na edição 81, na qual foram relatadas histórias emocionantes das personagens que subiam aos palcos e davam vida e movimento a todo o aprendizado cotidiano. Pela matéria e pelas fotos, Marie Claire recebeu o Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo, um dos mais conceituados da área.

De lá para cá, a Edisca evoluiu muito e tornou-se um ponto de referênciano universo da educação. Além de aulas de balé clássico e da formação de um corpo de baile, a escola ofereceaos alunos curso de teatro, reforçoescolar, informações complementares àquelas oferecidas na escola, almoço, vale-transporte, figurino para as aulas e apresentações, e atendimento nas mais diversas especialidades médicas. Nesse ambiente acolhedor, as crianças ficam distantes dos focos de marginalidade durante o horário em que não estão na escola, podem ter uma profissão ou um hobby, viajar para outros países para apresentar suas coreografias, integrar-se totalmente à sociedade. “Amissão da Edisca não é formar bailarinos, mas principalmente oferecer uma educação de qualidade para crianças pobres”, diz Dora. “Queremos tornar os cidadãos sensíveis, criativos e éticos, por meio de uma pedagogia transformadora e centralizada na arte.”

A seleção é feita com crianças entre 8 e 12 anos, que permanecem em média cinco anos no local. Os menores, hoje, vêm ainda do Morro do Mucuripe e adjacências e de outras favelas de Fortaleza, como o Conjunto Palmeiras, Grande Bom Jardim e Morro do Dendê. Uma das exigências para participar da Edisca é estar matriculadona escola formal. Após a inscrição, o candidato passa por uma avaliação de coordenação motora, flexibilidade, concentração e lateralidade. A segunda etapa é denominada Colônia deFérias e nela as 150 crianças pré-selecionadastêm contato com a linguagem de teatro, dança e artes plásticas, e são avaliadas em seus aspectos pessoais,sociais, cognitivos e produtivos.

Atualmente, a Edisca tem capacidade para atender 400 crianças e adolescentes, além das 50 mães envolvidas no projetoVida Feminina, que visa ao fortalecimento do núcleo familiar e oferece oficinas profissionalizantes e alfabetização para adultos. O espaço físico cresceu muito e a escola hoje conta com duas salas de dança de 100m² cada; um ateliê de artes plásticas de 100 m²; um teatro para 250 pessoas, uma biblioteca com computadores e um acervo de 5 mil livros; quatro salas para oficinas de estudo; um refeitório; duas salas para cursos profissionalizantes e de capacitação; uma área de saúde com recepção e duas salas de atendimento; uma área de psicologia; salas de administração e casinha de bonecas. A escola funciona em dois turnos, manhã e tarde, paraatender aos alunos no horário complementar à escola.

Na opinião de Dora, os resultados sociais de todasessas oportunidades e estrutura já são evidentes na prática. “Eu tive a honra de conviver com grandes sábias,que tomaram para si o controle do seu destino, acreditaram ser possível entrar em uma faculdade pública, educar melhor seus filhos, agir de forma responsável e social com toda a sua rede de relações e fazer valer sua voz de cidadã”, diz.

A estudante de educação física e professora de dança da Edisca Tatiane de Jesus Gama, 27 anos, é um bomexemplo dessa trajetória. “Aos 8 anos eu tinha o grande sonho de ser bailarina, mas minha família não tinha condições de pagar uma escola de balé clássico pra mim. Na Edisca encontrei o caminho da auto confiança, aprendi a expressar meus sentimentos e a olhar o mundo com esperança e sem medo”, diz. A bailarina e estudante Jamila de Oliveira Lopes, 18 anos, é outra ex-aluna que teve a chance de sonhar com um futuro melhor. “Atravésda arte eu ganhei valores emocionais e fiquei mais forte. E isso eu carrego sempre comigo”, diz Jamila.

Para a realização e continuidade desse projeto artístico e educativo, a Edisca conta com doações de pessoas físicas ou jurídicas. Mais informações no site: www.edisca.com.br ou pelos telefones (85) 3278-1515 (85) 3278-1515 e (85) 3401-0000 (85) 3401-0000 .
Fonte: Revista Marie Claire

As lições que o circo ensina

Por Celso Masson
Isolado por canaviais, o bairro Campos Salles, em Barra Bonita, no interior de São Paulo, corria o risco de sumir do mapa. Abandonada, a antiga estação de trem fora ocupada por três famílias que a converteram em moradia. O mato cobria suas poucas ruas de terra e já ocupava os quintais das casas. Até a escola municipal, com uma quadra poliesportiva, deixara de funcionar. Mas, antes que definhasse de vez, o povoado ganhou um sopro de vida. Há dois anos, a pedagoga paulistana Heloísa Melillo levou à prefeitura de Barra Bonita o plano de transformar a escola desativada em uma Casa de Cultura e Cidadania. O modelo seria o mesmo implementado por ela pouco antes na Vila Guacuri, uma favela na divisa entre as cidades de São Paulo e Diadema. Com sinal verde da prefeitura, em dois meses, a escola foi recuperada. A quadra, coberta, virou um picadeiro para aulas de circo e de dança. Hoje, 1.026 crianças e adolescentes passam por lá ao menos duas vezes por semana. Elas podem escolher duas atividades, de um cardápio de dez que inclui música, dança, teatro, circo, ginástica e até a arte de contar histórias. Cada aluno ganha dois lanches por dia. “Mais que ensiná-los a fazer piruetas, o projeto busca desenvolver habilidades para os desafios da vida: superar limites, ter equilíbrio, flexibilidade e coragem para se arriscar”, diz Heloísa. Jéssica Celestino da Silva, de 13 anos, concorda: “O trapézio me obriga a ficar concentrada, a prestar mais atenção”. Jéssica faz aulas de circo e dança na Casa, onde vai quatro dias por semana, sempre depois da escola.

Mas não é só de pão e circo que vivem os alunos da Casa. Algumas das salas ganharam computadores equipados com softwares livres, nos quais é possível aprender “artes digitais”, um curso que inclui técnicas de edição de vídeos, animação e tratamento de imagem. “Aprendi a fazer animação com tiras de papel”, diz Lucas Murilo Laviso, de 12 anos. “Isso me ajudou a ver o mundo de um jeito diferente.” A mudança na percepção de Lucas é resultado de um dos dois objetivos do curso. Se, do lado prático, a Casa forma técnicos para trabalhar na área da cultura, que responde por 7% do PIB brasileiro, do ponto de vista humano essa formação ajuda os jovens a se reconhecer no mundo. Eles são incentivados a documentar cenas da família e do cotidiano para montar narrativas pessoais.

Para dar suporte teórico aos programas das Casas de Cultura e Cidadania, que hoje atendem um total de 5.528 alunos, Heloísa Melillo montou um corpo de 13 curadores, que acompanham os educadores de forma contínua. Cada educador passa por 120 horas de capacitação antes de iniciar as atividades.

Quando a reportagem de ÉPOCA visitou a Casa, mais de 400 crianças e jovens assistiam a uma mostra de trabalhos dos próprios alunos e de seus educadores. Uma crença do projeto é que o conhecimento aprendido deva ser compartilhado. “Antes, nós apenas exibíamos filmes. Agora, os alunos se apresentam, são os protagonistas”, diz a educadora social Elisangela Fernandes dos Santos, de 34 anos. “Além das mostras, montamos espetáculos em eventos fora da Casa.” O calendário é intenso. “Já me apresentei 17 vezes”, diz Lucas Bertucci, de 12 anos, que também estuda teatro em Igaraçu do Tietê, cidade vizinha a Barra Bonita. “Eu gostaria de ser ator, trabalhar na televisão.” Numa das apresentações mais difíceis da Casa, os alunos de dança convidaram colegas que frequentam as academias particulares da cidade para um espetáculo coletivo, apropriadamente batizado Entrelace. “O encontro serviu para reafirmar o espírito democrático da Casa”, diz a arte-educadora em dança Viviane Carrasco, de 38.

Uma das características que distinguem esse projeto de outros da mesma natureza é a ênfase na capacitação das famílias. “Nós preparamos o jovem para um trabalho mais qualificado e também estimulamos seus familiares em direção ao empreendedorismo, seja coletivo ou individual”, diz Heloísa. “Envolver a criança, sua família e a comunidade é um dos pontos-chave do projeto, que pressupõe apoderamento e autonomia.” Um grupo formado por pais e cuidadores dos alunos se encarrega de propor formas de geração de renda. Elas vão de hortas comunitárias até cooperativas de artesanatos vendidos em bazares. Ao mesmo tempo, os alunos e suas famílias são orientados a cuidar do ambiente. Reciclar o lixo, economizar água e eletricidade, plantar árvores e manter as ruas limpas são algumas das contrapartidas que o projeto prevê. “Com isso, Campos Salles passou a ser um bairro reconhecido pela cidade”, diz Heloísa. “Era um lugar esquecido e hoje é um polo de atração de investimentos e de políticas públicas.” Hoje, quem diz em Barra Bonita que é de Campos Salles consegue até crediário nas lojas da cidade, algo impensável há dois anos.

O principal apoiador do projeto, com investimento direto de quase R$ 3 milhões por ano, além de verbas de renúncia fiscal, é a companhia AES. Ela contratou uma consultoria para monitorar os resultados e a satisfação foi de 98%. Mais que ampliar a rede de Casas de Cultura e Cidadania, que já chegaram a sete cidades, Heloísa sonha agora com o dia em que as Casas já não precisem existir. “A gente luta diariamente para se tornar desnecessário”, afirma.
Fonte: Revista Época

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

21 dicas - Ações que você pode fazer e que farão a diferença

1. Evite luzes ou equipamentos ligados quando não necessário.

2. Desligue os equipamentos da tomada, ao invés de desligar apenas no comando. Os aparelhos em modo stand-by continuam consumindo energia.

3. Antes de comprar um novo equipamento, verifique a etiqueta de consumo de energia e o selo do PROCEL e escolha aquele que consome menos energia.

4. Substitua as lâmpadas incandescentes por lâmpadas econômicas. Dão a mesma luz, mas poupam 80% da energia elétrica utilizada, e ainda duram mais.

5. Não ligue a televisão só para servir de companhia, nem adormeça com ela ligada. Programe para que se desligue sozinha.

6. Reduza o tempo no banho - poupa água e ajuda a diminuir o consumo de energia.

7. Verifique as borrachas de vedação da geladeira e do forno – coloque uma folha de papel entre a borracha e a porta: se a folha ficar solta, a porta não está fechando de forma eficiente.

8. Na máquina de lavar roupa, evite a pré-lavagem, exceto quando a roupa está muito suja.

9. Ligue a máquina de lavar roupa e louça apenas com carga máxima: poupa água, energia e tempo.

10. Programe as definições do seu computador para ele se desligar automaticamente (hibernar) após um tempo sem ser utilizado.

11. Procure utilizar os transportes coletivos. E, para distâncias curtas, opte por se deslocar a pé ou de bicicleta.

12. Se for comprar um carro, escolha um modelo eficiente no consumo de combustível. Dê preferência aos modelos flex e utilize álcool sempre que possível. A quantidade de CO2 emitida pela queima do álcool pode ser considerada compensada pela fixada nas plantações de cana de açúcar.

13. Reduza a quantidade de sacolas plásticas nas suas compras, utilizando sacola de pano ou caixas plásticas reutilizáveis para compras maiores. Recuse embalagens em excesso.

14. Separe os resíduos orgânicos dos recicláveis (plásticos, vidros, latas, papéis), e os encaminhe para a reciclagem. Se tiver espaço no quintal construa uma composteira para produzir adubo com o lixo orgânico.
15. Compre móveis de madeira e madeira para construção certificadas para garantir que você não está contribuindo com o desmatamento da Amazônia.

16. Pressione o governo para que o cumprimento de políticas públicas que promovam a mitigação (diminuição das causas) e a adaptação aos impactos irreversíveis às mudanças climáticas nos diferentes setores, como energia, transporte, florestas, saneamento, produção agrícola e pecuária.

17. Reduza seu consumo de carne e de produtos de origem animal, pois a produção de qualquer tipo de carne tem muito mais impacto sobre o meio ambiente que a produção de vegetais. Se você ainda não parou de comer carne, pressione os supermercados que freqüenta para que exijam dos seus fornecedores um sistema de rastreamento que garanta que a carne que compramos não venha de área de desmatamento na Amazônia Legal.

18. Solicite aos supermercados, restaurantes e fornecedores de alimentos e insumos domésticos que disponibilizem produtos orgânicos ou com certificação de origem ou qualidade de gestão ambiental.

19. Exija desses supermercados a informação sobre a qualidade ambiental dos produtos.

20. Pressione as empresas de produtos eletroeletrônicos das marcas que você consome por produtos mais eficientes no consumo de energia e por informação sobre a eficiência energéticas dos produtos.

21. Pressione as empresas das marcas que você consome para que criem alternativas para que nós consumidores possamos mudar de forma mais significativa nossos hábitos de consumo.
Fonte: Ong Clima e Consumo

Veículos a diesel fabricados a partir de 2012 terão aditivo para reduzir emissões

O Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) fecharam um acordo nesta segunda-feira para a definição dos padrões que guiarão a produção, a comercialização e o uso de um aditivo que para reduzir as emissões de óxido de nitrogênio dos veículos a diesel.

Batizada de Arla 32, a solução aquosa de uréia será de uso obrigatório em todos os veículos a diesel fabricados a partir de 2012, conforme portaria publicada pelo ministério no ano passado.

De acordo com o coordenador de resíduos e emissões do Ibama, Paulo Macedo, a indústria já está se preparando para a introdução da nova tecnologia de motores que permitirá a utilização do aditivo. Os veículos terão um tanque separado para a solução e, sem ela, sofrerão uma perda de 30% no rendimento. A tecnologia já é usada na Europa.

Segundo Macedo, com o uso do Arla 32 as emissões de óxido de nitrogênio pelos veículos a diesel sofrerá uma redução de pelo menos 70%. O NOx é um dos poluentes cuja emissão é controlada pelo Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares) e pode causar problemas respiratórios e cardíacos.

Pelo acordo, caberá ao Inmetro estabelecer os padrões que deverão regulamentar o produto. O instituto será responsável, entre outros, pela certificação de fabricantes e importadores e pela fiscalização do aditivo vendido em postos de gasolina e supermercados.
Fonte: Folha Online

Sacolinha "oxibio" ganha espaço no mercado

Material se degrada em apenas três meses, mas tecnologia é cercada de polêmica.

Lojas bastante conhecidas, como C&A, Riachuelo, Pernambucanas e Kopenhagen , passaram a adotar as sacolas oxibiodegradáveis - que se degradam mais rapidamente que as comuns, principalmente quando expostas ao sol.

Essas controversas sacolas são feitas a partir de combustíveis fósseis, como as convencionais - o que contribui para o aquecimento global -, mas recebem um aditivo que agiliza sua decomposição.

De acordo com Eduardo Van Roost, diretor da RES Brasil, empresa que produz o aditivo, as oxibiodegradáveis já tomam conta de cerca de 18% do mercado de sacolas e sacos. E, no mundo, são produzidas em um total de 92 países e "encontradas em muitos outros".

A sacola pode se desfazer em três meses - se estiver exposta a sol e calor - ou em 18 meses - se estiver guardada dentro de casa. As comuns levam dezenas de anos para desaparecer.

As empresas explicam nas próprias sacolas o motivo que as levou a adquirir as oxibiodegradáveis.

A Saraiva, por exemplo, escreve que a sacola é "ecologicamente correta" e que a empresa, dessa forma, ajuda "a preservar o meio ambiente".

A Fototica diz em seu saco plástico que "tem consciência da importância da preservação do meio ambiente". Também afirma que "o que antes levava 300 anos para se decompor" agora "passa a acontecer em bem menos tempo".

Apesar do sucesso no mercado, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) não têm grande simpatia pelas sacolas oxibiodegradáveis.

A Plastivida, entidade que representa a cadeia produtiva do plástico, também é contra. "A polêmica surge toda vez que aparece um produto novo. Mas o sucesso dos oxibiodegradáveis se deve à perseverança nos testes. Acho que não existe um material tão testado. E eles não mostram toxicidade do produto", diz Van Roost.

Ele ressalta que o aditivo está em conformidade com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e hoje é usado também em embalagens de alimentos, como os pães do grupo Bimbo (que inclui as marcas Pullman e Nutrella).

Segundo a empresa, os plásticos e aditivos desaparecem por completo e sobram da degradação apenas água, pequena quantidade de CO2 e biomassa. Porém, assim como ocorre em relação aos plásticos convencionais, se houver tintas ou pigmentos nocivos ao meio ambiente eles vão permanecer na natureza.

Fragmentação

A campanha do ministério Saco é um Saco diz algo diferente: que o plástico com aditivo "apenas se fragmenta em pedaços menores, muito mais difíceis de conter que um saco plástico inteiro". E podem, assim, acabar se depositando em rios, ingeridos por peixes e outros animais.

Francisco de Assis Esmeraldo, presidente da Plastivida, chama o material de "engodo". "As pessoas pensam que a sacola sumiu. Mas, na verdade, ela continua na natureza, fragmentada e espalhada. É uma poluição que não te agride, porque você não enxerga, mas é muito mais grave."
A RES Brasil afirma que interesses econômicos motivam as críticas às sacolas oxibiodegradáveis. Mas Esmeraldo diz que, como as sacolas usam praticamente o mesmo material (com exceção do aditivo), para o setor em si a sacola não traz prejuízo. "Somos contra porque sabemos que, daqui a alguns anos, o problema ambiental vai aparecer."

A Plastivida considera que um benefício real ao ambiente virá somente com a redução do uso de sacolas. As campanhas de conscientização dos consumidores têm dado resultados: em 2007 foram usadas 17,9 bilhões de sacolas. No ano passado, o número caiu para 15 bilhões. "Nossa expectativa é chegar aos 14 bilhões neste ano", diz Esmeraldo.
Fonte: O Estado de São Paulo

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vai fechar a conta no banco? Veja como fazer para evitar problemas

Pedir o encerramento da conta por escrito e guardar o comprovante da solicitação são medidas importantes para se proteger de cobranças indevidas no futuro

Muita gente acha que se zerar o saldo e deixar de movimentar a conta bancária, ela será automaticamente fechada. Mas não é bem assim: o consumidor precisa solicitar que a conta seja encerrada, se não o banco vai continuar cobrando tarifas.

O pior é que esse desconhecimento pode acarretar muitos problemas, pois, se não houver saldo para cobrir as despesas, o correntista vai ficar em débito com o banco e poderá, inclusive, ter seu nome incluído em cadastros de inadimplentes.

Assim, para evitar qualquer dor de cabeça, o melhor a fazer é solicitar formalmente o encerramento da conta. Para isso, o Idec recomenda que o pedido seja feito por escrito em duas vias: uma fica com o banco e a outra, protocolada, com o ex-correntista. O documento servirá de comprovante da solicitação para resguardar o consumidor de futuras cobranças indevidas.

De acordo com as normas do Banco Central (resolução 2747/2000), feita a solicitação, a instituição financeira deve entregar ao consumidor um "termo de encerramento" com todas as informações relacionadas à conta a ser fechada e com o compromisso expresso de encerrar a conta em até 30 dias.

É importante lembrar que a conta não será encerrada enquanto existir saldo devedor ou débitos de obrigações contratuais que o correntista mantenha com o banco, cujos pagamentos estejam vinculados à conta que se pretende encerrar. Assim, se tiver alguma dívida com o banco, o consumidor deverá pagá-la primeiro. Além disso, deve suspender a realização de débitos automáticos e aguardar a compensação de cheques antes de fechar a conta.

A partir do pedido de encerramento, a instituição deve cessar a cobrança de tarifa de manutenção, podendo, no mês em que ocorrer a solicitação, cobrar tarifa proporcional ao tempo de utilização da conta.

Depois de concluído todo processo, o banco deve enviar aviso ao correntista, informando a data do efetivo encerramento da conta corrente.

Fecha a conta e passa a régua
Veja abaixo outras dicas importantes para encerrar a conta bancária:

Fecha a conta e passa a régua
Veja abaixo outras dicas importantes para encerrar a conta bancária:

1. A solicitação de encerramento pode ser feita em qualquer agência do banco de que o consumidor é cliente, não necessariamente na que a conta foi aberta.

2. Algumas instituições podem oferecer um formulário específico para o encerramento da conta. Nesse caso, solicite uma cópia. Mas, na dúvida, leve seu próprio documento com o pedido.

3. Além da carta, o consumidor deve levar as folhas de cheque e cartões relacionados àquela conta ao banco e solicitar que sejam destruídos (quebrados, rasgados) em sua presença.

4. Caso queira encerrar a conta mas manter o cartão de crédito vinculado à instituição financeira, o ex-correntista deve indicar essa intenção ao banco, que poderá aceitar ou não o pedido.

5. Caso tenha débito automático, é recomendável que o correntista vá, ao longo do mês, suspendendo os serviços assim que os pagamentos forem realizados.

6. Se não tiver tomado essa precaução antes de encerrar a conta, o consumidor precisa deixar saldo suficiente para cobrir o pagamento. O mesmo vale para cheque pré-datado.

Fonte: IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Entra em vigor norma que certifica fazendas de gado

Estão entrando em vigor as normas da Rede de Agricultura Sustentável (RAS), que estabelecem práticas responsáveis para a pecuária e permitirão a certificação socioambiental de fazendas de gado (boi e búfalo) em regiões tropicais.

A RAS é a primeira certificação independente para esse setor. Ela atesta a origem e a rastreabilidade do produto final (da carne, do leite ou seus derivados) do pasto à mesa do consumidor. O produto certificado pela Rede de Agricultura Sustentável poderá ser identificado pelo selo Rainforest Alliance Certified aplicado na embalagem e representa o compromisso do produtor com boas práticas ambientais e responsabilidade social.

“É também a primeira norma para a pecuária a seguir protocolos internacionais e garantir transparência e equilíbrio de participação entre sociedade civil e setor produtivo”, afirma o secretário-executivo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Luis Fernando Guedes Pinto. O Imaflora é a única instituição brasileira apta a representar a Rede de Agricultura Sustentável.


Certificação - Para ser certificada, uma propriedade rural é submetida a uma rigorosa auditoria, baseada no cumprimento de requisitos sociais e ambientais previstos na RAS. Entre eles, estão:

A comprovação de que na fazenda não há desmatamento, nem destruição de ecossistemas de alto valor de conservação;

Identificação individual do animal (com chip ou brinco), de maneira a permitir sua rastreabilidade do nascimento ao abate;

Permanência do animal na propriedade certificada por, pelo menos, seis meses. O empreendimento deve comprovar vacinas e boa saúde do animal;

Adoção de medidas para reduzir a emissão de carbono (como a presença de árvores no pasto para capturar CO2 e medidas que facilitem a digestão de alimentos para reduzir emissões;

Comprovação de que não há trabalho infantil;

Comprovação de que não há trabalho forçado;

Comprovação de que não há discriminação de qualquer tipo;

A indústria (frigorífico e demais etapas da cadeia produtiva) também é submetida à auditoria pelo Imaflora e deve comprovar que o produto embalado, que será enviado aos fornecedores, é aquele que foi avaliado em seu local de origem.


As normas para pecuária são resultado de um amplo processo, desenvolvido ao longo de um ano e meio, em que, por meio de consultas públicas presenciais ou eletrônicas, foram colhidas sugestões de todos os representantes da cadeia produtiva da pecuária (produtores, frigoríficos, ONGs, representantes de sindicatos patronais e de trabalhadores, entre outros) de mais de 130 organizações de 34 países.

Antes de serem validadas pelo Comitê Internacional de Normas da RAS foram testadas em campo, na Austrália, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Quênia e Nicarágua. Confira a íntegra da RAS no site http://www.imaflora.org/
Fonte: Sociedade Sustentável Portal Terra

Efeito estufa: Terra retém por segundo energia equivalente a 10 bombas atômicas

A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera está alterando o equilíbrio dinâmico do planeta. A energia do sol que chega à Terra tem de ir embora, mas não é bem isso o que está acontecendo. “A elevada concentração de gases estufa como óxido nitroso, metano e CO2 está levando o planeta a reter 1,6 watt de energia por metro quadrado. Quando você olha para esse número, parece pouco, mas quando multiplicado pela área do planeta (510,3 milhões km2), verifica que a ordem de energia retida por segundo equivale à explosão dez bombas atômicas do porte da lançada em Hiroshima em 1945”, explica o explica o pesquisador Enéas Salati, presidente da Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FBDS).

As informações foram dadas pelo pesquisador durante seminário promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da USP sobre Forças de Transformação do Equilíbrio Dinâmico dos Ecossistemas Amazônicos e seu Papel Climático. Segundo Salati, cerca de 80% da energia solar que entra no planeta é retida pelos oceanos. “Ela é usada, por exemplo, para promover a evaporação. São necessários 500 gramas de calorias para a evaporação de cada grama de água”, explica.

Mais vapor de água implica aumento da umidade absoluta do ar. Quando esse vapor condensa para formar nuvens, há liberação de energia, o que leva atmosfera a ficar mais dinâmica, explica o especialista. “Com isso, a tendência é da se verificar fenômenos extremos mais freqüentes, como ventos e furacões mais intensos”, diz Salati.
Fonte: Sociedade Sustentável Portal Terra

"Mobilidade rurbana"

Enquanto as grandes cidades já não dão conta de congestionamentos estressantes e antieconômicos, o campo vem recuperando terreno graças a programas como os de agricultura familiar e de biocombustíveis. O descompasso entre os avanços na sustentabilidade rural e a falta de projetos para reduzir a poluição urbana nos obrigam a buscar um ajuste cidade-campo mediante uma política de “mobilidade rurbana”. Trata-se de uma evolução no sentido de enfocar convenientemente o problema urbano brasileiro em suas dimensões ambientais, econômicas, sociais e tecnológicas.

Para começo de conversa, temos enormes vantagens comparativas em relação ao resto do mundo no quesito sustentabilidade ambiental. O País conta com mais de 60% de cobertura florestal, recicla quantidade razoável do lixo que produz, é líder na produção de biocombustíveis e sua matriz energética possui 50% de fontes renováveis de energia, como a biomassa e a hidroeletricidade.

Entre as lições de casa que falta fazer, é primordial zerar o desmatamento na Amazônia. Aos olhos do mundo inteiro, o verde amazônico é nosso maior ativo ambiental. Livre de aspectos clandestinos recorrentes, o agronegócio brasileiro pode continuar crescendo a partir da transformação de pastagens degradadas em lavouras tecnicamente bem conduzidas. Nossa agropecuária tem condições de ser não apenas a mais dinâmica, mas a mais sustentável do globo.
Já nos grandes centros urbanos, o combate à poluição depende sobretudo da implantação de sistemas racionais de transporte coletivo, de forma a reduzir o uso de veículos individuais em deslocamentos urbanos e interurbanos. Nesse sentido, o trem-bala no eixo Campinas-São Paulo-Rio pode se tornar um novo paradigma a partir de 2016, quando o Brasil sediará as Olimpíadas.

Ainda que sua implantação seja onerosa, inovações como o trem-bala precisam apresentar alto rendimento ambiental e baixo custo operacional, combinação que depende essencialmente da forma de energia adotada. Nenhuma estratégia de “mobilidade rurbana” pode almejar o sucesso se não tiver como meta livrar as populações urbanas e rurais dos males da poluição, latu sensu.

Além de estresse, os congestionamentos causam acidentes e perdas cumulativas de tempo no trânsito. Nos grandes centros, uma pessoa fica em média 20 horas por semana dentro de veículos de transporte público. Fonte de doenças das vias respiratórias, entre outros problemas de saúde pública, a poluição do ar pela queima de combustíveis fósseis vem sendo incentivada – é preciso reconhecer – pela política industrial pró-fabricação e venda de automóveis. Aí está a maior contradição da nossa urbanização desenfreada.

Se quisermos que o Brasil seja um verdadeiro exemplo mundial de sustentabilidade, não basta defender o uso mais racional do transporte individual nos grandes centros. A simples substituição do óleo diesel pelo etanol nos ônibus urbanos poluiria 90% menos. Deslocando-se em corredores exclusivos, como já ocorre em algumas capitais, os coletivos podem tornar-se um serviço público eficiente, limpo e atraente.

Para aliviar a atmosfera de nossas comunidades urbanas, a indústria deve desenvolver motores de média e grande potência, para ônibus e caminhões, mais adaptados à combustão do etanol e ao diesel de cana. Os motores desenvolvidos no final da década de 1970 para consumir álcool, e mesmo os recentes motores flex ou bicombustíveis, devem ser aprimorados para render mais na combustão de renováveis.

De pouco adiantará construir a agropecuária mais sustentável do mundo se o Brasil não encarar o supremo desafio de reduzir seus índices de poluição e os recordes de congestionamentos nos grandes centros. Aos governos cabe não apenas formular políticas eficazes de "mobilidade rurbana", o que inclui a criação de incentivos, mas dar o exemplo em todas as suas instâncias operacionais.

E isso é só o começo de um esforço para legar um País melhor para os nossos descendentes.

Fonte: Sociedade Sustentável Portal Terra