segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pesquisa revela que Vidigal tem quase 70% de aprovação na Serra

Foto: Bruno Coelho


O prefeito da Serra, Sérgio Vidigal, tem índice de 69,25% de aprovação dos moradores da Serra. É o que apontou uma pesquisa realizada pelo Instituto Flexconsult e divulgada em parceria com a Rede Vitória. O levantamento avaliou ainda a satisfação dos moradores em relação ao Executivo e constatou que 64,5% dos entrevistaram avaliam como ótimo/bom o desempenho da prefeitura.


De acordo com a pesquisa, 69,25% dos moradores disseram que a administração do pedetista é bom/ótimo; 23,75% consideram regular e apenas 4,5% responderam que é ruim/péssimo. Não souberam ou não responderam representam 2,5% das opiniões dos entrevistados. O saldo, diminuindo o índice ótimo/bom pelo ruim/péssimo, terminou com balanço positivo de 64,75%.


Foto: Folha Vitória

A pesquisa também quis saber a satisfação dos moradores em relação ao Executivo. 64,5% disseram que é bom/ótimo; 28,5% regular e 5,25% como ruim/péssimo. Não souberam ou não responderam soma 1,75% dos entrevistados.

De acordo com a avaliação do cientista político Fernando Pignaton, os resultados da Serra mostram que perto de 2/3 aprovam a prefeitura (64,50% de “Ótimo e Bom”) e mais de 2/3 aprovam o prefeito (69,25% de “Ótimo e Bom”) contra apenas 5,25% de “Ruim e Péssimo”, no caso da prefeitura. No caso do prefeito o índice de “Ruim e Péssimo” cai abaixo dos 5% (“4,50%”). Portanto o conceito da prefeitura de “bom” e do prefeito é de “bom com tendência para ótimo”.

Ao todo, foram realizadas 400 entrevistas e a margem de erro é de 4,9% e tem índice de 95% de confiança. As entrevistas foram feitas entre os dias 26 de novembro e 5 de dezembro de 2010.

Fonte: Folha Vitória

Crack já se alastrou pelo Brasil, diz pesquisa da CNM

Embora haja um grande esforço para a redução da mortalidade infantil, não há política de Estado de prevenção à mortalidade juvenil


Por Agência Estado

O consumo de crack já se alastrou pelo País, aponta pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) divulgada na manhã desta segunda-feira (13), em Brasília. Levantamento feito com 3.950 cidades mostra que 98% dos municípios pesquisados enfrentam problemas relacionados ao crack e a outras drogas. "Falta uma estratégia para o enfrentamento do uso do crack. Não há integração entre União, Estados e municípios", alertou o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.
Ziulkoski criticou o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, lançado pelo governo federal em maio deste ano. "É um programa que não aconteceu, praticamente nenhum centavo chegou". Ao apresentar os números, ele disse que não avaliaria se a iniciativa teve intenções eleitoreiras. "Apenas estou trazendo números e realidades".

A CNM observa ainda que, embora haja um grande esforço para a redução da mortalidade infantil, não há política de Estado de prevenção à mortalidade juvenil. A confederação também ressalta a importância de ações na região de fronteira para impedir a entrada de droga no País.
 
Números

O estudo da CNM constatou que, dos municípios pesquisados, apenas 14,78% afirmaram possuir Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que oferece atendimento à população e acompanhamento clínico de pessoas com transtornos mentais, entre eles usuários de drogas.

Quando o assunto foi a existência de programa municipal de combate ao crack, 8,43% das cidades alegaram possuir alguma iniciativa dessa natureza. Mesmo sem um programa definido e com a falta de apoio das demais esferas de governo, 48,15% dos municípios realizam campanha de combate ao crack, aponta a pesquisa.

Estacionamentos com cobrança fracionada em funcionamento. No aeroporto nada mudou

LETÍCIA GONÇALVES



No terminal Eurico de Aguiar Salles a permanência até a primeira hora continua custando R$ 3,00 e após esse tempo são cobrados R$ 5,00, sem o fracionamento a cada dez minutos

Estacionamentos privados pela empresa Maxipark em Vitória, já realizam a cobrança fracionada




Os estacionamentos privados administrados pela empresa Maxipark em Vitória já realizam a cobrança fracionada como determina lei municipal 8.012, que trata da cobrança parcelada a cada dez minutos após a primeira hora.


A empresa afirmou em comunicado enviado na última sexta-feira (10) que "todas as unidades de estacionamentos da rede na capital se adequam à nova lei municipal promulgada em 20 de outubro de 2010" a partir desta segunda-feira (13). Há, no entanto, pelo menos uma exceção: o Aeroporto de Vitória.

A Maxipark tem 10 estacionamentos na capital. No que está localizado na esquina entre as avenidas Princesa Isabel e Barão de Itapemirim, no Centro de Vitória, por exemplo, as mudanças foram adotadas na manhã desta segunda como o previsto. São cobrados R$ 5,00 até a primeira hora e R$ 0,83 a cada dez minutos após esse período.

Procedimento semelhante, com preços diferentes, foi adotado nos estacionamentos da Maxipark localizados nas avenidas General Osório (Bradesco) e República (Itaú) e na rua Aristeu Aguiar (Itaú), também no Centro.

No aeroporto, tudo igual

Mas no Aeroporto Eurico de Aguiar Salles nada mudou. A permanência até a primeira hora continua custando R$ 3,00 e após esse tempo são cobrados R$ 5,00, sem o fracionamento a cada dez minutos, como estipula a lei.

Os clientes lamentam. O corretor de imóveis Alcy Ferreira Coutinho, diz que a cobrança fracionada seria melhor. "Eu sou a favor da cobrança fracionada porque não tem como prever o que vai acontecer em relação a atrasos de voos e a gente fica na mão de uma tarifa fixa, às vezes até abusiva. Eu prefiro cobrança fracionada porque cada caso é um caso. Se atrasar um voo e a gente tiver que ficar mais tempo, a gente vai pagar proporcionalmente a esse tempo".

A Maxipark, por meio da assessoria de imprensa, informou que tentou implantar as medidas também no estacionamento do aeroporto, mas que não foi autorizada pela Infraero, que administra o terminal e mantém o contrato com a empresa. A Infraero ainda não se posicionou sobre o assunto.


O secretário de Cidadania e Direitos Humanos de Vitória, Eliezer Tavares, afirma que o estacionamento do aeroporto também tem que obedecer à lei, já foi notificado e pode recorrer em dez dias a contar da data da notificação. Se descumprir as regras, tanto a Maxipark quanto a Infraero podem ser multadas.

Notificações

Ainda segundo o secretário, há 42 estacionamentos privados na Capital e todos devem seguir a norma imposta pela lei municipal. Os estabelecimentos já receberam notificações educativas. Já as punitivas ainda estão sendo feitas pelo Procon municipal. A lei já está valendo. "Agora não tem mais choro nem vela, como diz o ditado popular", frisou o secretário.

Dos 42 estacionamentos 17 já foram notificados pelo Procon após o período de adequação à lei. Desses, nove foram autuados e podem recorrer. Os outros oito já cumpriam a medida. O Procon municipal deve ir aos outros estacionamentos, para completar os 42, até o final desta semana.

O Shopping Norte Sul já se adequou e faz a cobrança fracionada. Os shoppings Jardins e Vitória foram notificados e têm até a próxima quinta-feira (16) para recorrer da multa. Os departamentos jurídicos desses centros comerciais analisam as medidas a serem tomadas.

A nova lei
A lei municipal 8.012 determina que a cobrança pelo estacionamento em locais privados seja fracionada a cada dez minutos após a primeira hora. O valor de cada parcela será o valor de uma hora dividido por seis.

Um exemplo: um estacionamento que cobra hoje R$ 6,00 nas quatro horas terá que cobrar R$ 1,50 por hora e R$ 0,25 por 10 minutos.

O secretário Eliezer Tavares diz que o consumidor é beneficiado com a medida. "A vantagem é que a cobrança fica mais igual. Antigamente favorecia muito à empresa. Um estacionamento que custava R$ 6,00 para quatro horas, a pessoa ficava 15 minutos de graça, mas se ficasse 16 minutos pagava R$ 6,00 e não tinha direito de voltar para ficar o restante do tempo. Pagava por quatro horas e levava 16 minutos".

Quem ficar uma parcela com fração de tempo menor que cinco minutos terá o valor arredondado para menos. Antes da cobrança, a tolerância deve ser de 25 minutos nos shoppings e de 10 minutos em outros locais. O valor da multa varia de R$ 406 a R$ 5 milhões, de acordo com o faturamento da empresa.
Fonte: A Gazeta

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Portadora de deficiência visual leva esperança a outros com mesmo problema

Por Leilane Menezes
A visão começou a abandonar os olhos de Nayara Magalhães dos Santos(Foto) muito cedo. Era difícil decifrar o que diziam os livros escolares. A menina ampliava os textos e as figuras, tentava ir além da própria capacidade — o que se tornou um hábito —, mas a cabeça só doía. E nada de o mundo parecer mais fácil de desvendar. Apesar de ter nascido com uma doença grave, a retinose pigmentar progressiva (veja Para saber mais), a menina de cabelos e olhos claros foi criada para ser otimista. Nunca acreditou que perderia totalmente a visão.

Não aprendeu o braille, sistema de leitura por meio de pontos, quando era criança. A família, superprotetora, preferia acreditar que não seria necessário. Mas foi. Aos 18 anos, Nayara teve uma perda brusca na habilidade de enxergar. “Os médicos acreditam que a minha visão piorou depois que minha mãe adoeceu e ficou muito tempo no hospital. Pode ter sido o nervoso, o baque emocional”, explicou a jovem. “Não me preparei para isso porque meus pais acharam que o melhor para mim seria esconder esse problema. Eles não queriam aceitar a verdade, que teriam uma filha com uma deficiência em um mundo não adaptado”, completou.

Hoje, Nayara tem entre 15% e 20% da capacidade de ver, durante o dia. Ao anoitecer, cai para 10%. Mas a falta do sentido não a impede de ir longe. À época da piora, Nayara se preparava para o vestibular. Sonhava em cursar serviço social na Universidade de Brasília (UnB). “Estudei a vida toda em escola pública e todo mundo sabe que assim fica mais difícil. Eu não tinha acesso a nada que facilitasse a minha situação como deficiente visual”, afirmou.

Mesmo diante do problema, Nayara matriculou-se em um cursinho preparatório para o vestibular. Gravava todas as aulas, enquanto uma amiga ajudava e lia os textos para ela. E assim Nayara estudou mais de 10 horas por dia, durante um ano. Passou na segunda tentativa. “Escolhi o serviço social porque é o curso que mais trata de políticas sociais. O profissional dessa área defende um grupo vulnerável, as minorias. O primeiro auxílio que as pessoas procuram é o de um médico. A maioria deles trata a deficiência visual apenas com uma doença e não leva em consideração o social. A assistente atua justamente nesse setor”, justificou.

Mudança
Nayara conheceu um mundo diferente. Estava habituada a uma vida de isolamento: “Sofri muito bullying na escola. Tinha que me sentar sempre muito perto do quadro, às vezes tropeçava nas coisas, batia a cabeça. Aprendi a me afastar dos outros para me defender”. Na universidade, a jovem encontrou amigos, alunos como ela ou professores. Conheceu o Programa de Apoio aos Portadores de Necessidades Especiais (PPNE). Nele, a estudante tinha direito a três tutores. Eles eram alunos bolsistas que a ajudavam durante a aula e nas provas.

“Quando percebi que muitas pessoas acreditavam em mim, me vi capaz de qualquer coisa”, lembrou. Quase quatro anos depois de ingressar na UnB, Nayara deu início ao trabalho de conclusão de curso, a monografia. O tema não poderia ser outro: o acesso dos portadores de necessidades especiais ao nível superior. “Escolhi pesquisar porque há tão poucos deficientes nas universidades. É um problema que vem do ensino básico, passa pelo médio e leva a uma barreira no momento de ingressar na faculdade.” Nayara encontrou pouca bibliografia. Contou com a ajuda de computadores com leitores de tela.

Dificuldades
O trabalho trata das falhas na acessibilidade dentro da UnB. “Faltam calçadas adaptadas, tudo é muito longe. Sempre esquecem um orelhão no meio do caminho, um buraco no meio da rua. A cidade toda é assim e a universidade não é diferente”, apontou. Mas o foco da pesquisa de Nayara é mais polêmico que a questão da mobilidade. A monografia leva o título Sistema de cotas para deficientes, uma alternativa viável.

“Percebi que a quantidade de deficientes só diminuía na UnB. De acordo com pesquisas, 26 mil deficientes concluíram o segundo grau no último ano. A demanda pelo ensino superior existe. Só há 48 deficientes na UnB inteira. Desses, somente 15 têm algum problema como surdez ou na visão. Os outros sofrem de dislexia, etc.”, constatou. Nayara entrevistou os professores do PPNE e os alunos especiais. “Na minha hipótese, achei que não iam concordar com o sistema de cotas. Mas me surpreendi. Apenas um deles se colocou contra.”

Na conclusão, pela própria experiência de vida e pelo que viu na UnB, Nayara optou por defender a reserva de vagas no vestibular para portadores de necessidades especiais. “Seria uma política de equiparação de oportunidades. Algo paliativo e não permanente. Quando a universidade conseguisse atrair esse público, não seria mais necessário”, argumentou.

“Essa medida teria de ser articulada com uma política de mudança no sistema educacional inteiro, desde o ensino básico. Deveria também ser acompanhada de uma política de permanência dentro do ensino superior, como o oferecimento de bolsas de pesquisa especiais”, acrescentou. Ganhou nota máxima, o SS. Agora busca meios de divulgar suas ideias e contribuir efetivamente com a sociedade.

Nayara não deixa de surpreender. Este mês, assumiu o cargo de assistente social na Secretaria de Justiça. Foi a única que passou no concurso para essa atividade específica. Agora, acompanha jovens que cumprem medida de liberdade assistida. Vai, inclusive, visitar a casa deles e orientar as famílias para que os adolescentes não voltem a cometer crimes. “Para poder levar uma vida normal, é preciso aceitar-se. Depois, tentar ser independente, o máximo possível. E, principalmente, agarrar todas as oportunidades”, ensinou. Quem olha para Nayara não reconhece a limitação de imediato. Vê apenas uma jovem de traços suaves, maquiada com delicadeza, usando luzes no cabelo e unhas pintadas de rosa-claro. Na tarde de ontem, ela se exibia, esbelta, em um vestido verde, da cor da esperança.

"Para poder levar uma vida normal, é preciso aceitar-se. Depois, tentar ser independente, o máximo possível. E, principalmente, agarrar todas as oportunidades"

O número
26 mil
Número de deficientes que concluíram o segundo grau no ano passado em Brasília

Para saber mais
A doença

A retinose pigmentar éprogressiva uma alteração hereditária rara. Nela, a retina degenera-se de forma lenta e progressiva, conduzindo, geralmente, à cegueira. A incidência é de um caso para cada 4 mil pessoas. Nela, as células sensíveis à luz (bastonetes) da retina, que são responsáveis pela visão quando há pouca claridade, degeneram gradualmente. Os primeiros sintomas costumam começar na infância. Aos poucos, verifica-se a perda profunda da visão periférica, aquela que permite enxergar mesmo o que não é o foco principal do olhar. Nas etapas finais da doença, o portador ainda conta com uma pequena área de visão central e um resto diminuto de visão periférica. Ainda não existe cura para a doença.
Fonte: Correio Braziliense

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Canteiro de arte

Texto Marilena Dêgelo Fotos Carlos Cubi e Lufe Gomes
Como melhorar a dura realidade de quem trabalha todos os dias carregando sacos de cimento, assentando tijolos e se arriscando em andaimes? Incomodados com o sofrimento dos empregados da construção civil, o arquiteto Arthur Pugliese, 35 anos, e o administrador de empresas Daniel Cywinski, também de 35, encontraram uma solução, a princípio utópica, durante viagem a Barcelona, na Espanha, em 1999. “Diante da arte de Gaudí, pensamos em desenvolver trabalho semelhante com operários nos canteiros de obras, aproveitando a grande quantidade de entulho”, diz Pugliese.

De volta ao Brasil, eles colocaram em prática a idéia que, em 2001, deu origem ao projeto ambiental, cultural e social Mestres da Obra. O principal objetivo da ação, que envolveu até hoje mais de 1.500 trabalhadores em São Paulo, é o resgate da autoestima deles por meio da arte. Com autorização de grandes construtoras, os dois amigos montam ateliês no canteiro de obras, que recebem 20 operários liberados por uma hora do trabalho durante um mês. Para isso, contam com uma equipe de seis pessoas.

Nas aulas, eles apresentam fotos de peças de artistas famosos para inspirar os trabalhadores na confecção de objetos, muitos feitos coletivamente. “Cada um contribui com o saber que traz de sua origem, a maioria do Nordeste. Eles aprendem a ver aquele material descartado com outro olhar e a valorizar o que fazem como obra de arte”, diz Cywinski, especialista em educação ambiental.

Reconhecida como organização de interesse público sem fins lucrativos, a Mestres da Obra conseguiu este ano o apoio de empresas como Duratex e Gerdau, com base na Lei de Incentivo Fiscal. Isso possibilitou ampliar o projeto para um circuito cultural com 12 ateliês que incluem a exibição de curtas- -metragens e peça de teatro interativa, com temas relacionados à realidade dos operários. “A experiência abre a cabeça e libera a sensibilidade deles, contribuindo para melhorar suas relações no trabalho e em casa”, afirma Pugliese.

As obras produzidas nos ateliês já participaram de mostras de arte e design dentro e fora do país. Hoje, 230 trabalhos fazem parte do acervo e ficam expostos na Galeria Mestres da Obra, inaugurada em 2008, no centro de São Paulo.
Fonte: Revista Casa e Jardim

A dança da diferença

Por Vera Ligia Rangel
Há 18 anos, a bailarina Dora Andrade criou um projeto de dança que revolucionou a vida de menores em condições desfavoráveis no Nordeste. O trabalho começou na comunidade do Morro de Santa Terezinha, no bairro Mucuripe, em Fortaleza, no Ceará. A escolha da região foi feita em função de um problema social que ganhava contornos maiores e mais assustadores a cada dia. “A cidade era recordista mundial em prostituição infantil e no morro foi detectada uma migração das crianças para a praia, um espaço de risco pessoal para elas nesse contexto”, diz a bailarina. “A dança ajudou as crianças a recuperarem a autoestima e terem outra perspectiva de vida”, diz.

Nos primeiros quatro anos de existência, a Edisca foi apoiada pelo Governo do Estado do Ceará. Depois disso, estabeleceu-se uma parceria importante com o Instituto Ayrton Senna, que possibilitou a ampliação da área pedagógica, artística e de gestão, e aumentou a rede de relacionamentos locais, nacionais e até internacionais da escola.

Em 1997, as lições de amor e de arte ensinadas na Edisca chamaram a atenção da equipe de Marie Claire. A revista publicou, então, uma matéria intitulada A Dança das Severinas, na edição 81, na qual foram relatadas histórias emocionantes das personagens que subiam aos palcos e davam vida e movimento a todo o aprendizado cotidiano. Pela matéria e pelas fotos, Marie Claire recebeu o Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo, um dos mais conceituados da área.

De lá para cá, a Edisca evoluiu muito e tornou-se um ponto de referênciano universo da educação. Além de aulas de balé clássico e da formação de um corpo de baile, a escola ofereceaos alunos curso de teatro, reforçoescolar, informações complementares àquelas oferecidas na escola, almoço, vale-transporte, figurino para as aulas e apresentações, e atendimento nas mais diversas especialidades médicas. Nesse ambiente acolhedor, as crianças ficam distantes dos focos de marginalidade durante o horário em que não estão na escola, podem ter uma profissão ou um hobby, viajar para outros países para apresentar suas coreografias, integrar-se totalmente à sociedade. “Amissão da Edisca não é formar bailarinos, mas principalmente oferecer uma educação de qualidade para crianças pobres”, diz Dora. “Queremos tornar os cidadãos sensíveis, criativos e éticos, por meio de uma pedagogia transformadora e centralizada na arte.”

A seleção é feita com crianças entre 8 e 12 anos, que permanecem em média cinco anos no local. Os menores, hoje, vêm ainda do Morro do Mucuripe e adjacências e de outras favelas de Fortaleza, como o Conjunto Palmeiras, Grande Bom Jardim e Morro do Dendê. Uma das exigências para participar da Edisca é estar matriculadona escola formal. Após a inscrição, o candidato passa por uma avaliação de coordenação motora, flexibilidade, concentração e lateralidade. A segunda etapa é denominada Colônia deFérias e nela as 150 crianças pré-selecionadastêm contato com a linguagem de teatro, dança e artes plásticas, e são avaliadas em seus aspectos pessoais,sociais, cognitivos e produtivos.

Atualmente, a Edisca tem capacidade para atender 400 crianças e adolescentes, além das 50 mães envolvidas no projetoVida Feminina, que visa ao fortalecimento do núcleo familiar e oferece oficinas profissionalizantes e alfabetização para adultos. O espaço físico cresceu muito e a escola hoje conta com duas salas de dança de 100m² cada; um ateliê de artes plásticas de 100 m²; um teatro para 250 pessoas, uma biblioteca com computadores e um acervo de 5 mil livros; quatro salas para oficinas de estudo; um refeitório; duas salas para cursos profissionalizantes e de capacitação; uma área de saúde com recepção e duas salas de atendimento; uma área de psicologia; salas de administração e casinha de bonecas. A escola funciona em dois turnos, manhã e tarde, paraatender aos alunos no horário complementar à escola.

Na opinião de Dora, os resultados sociais de todasessas oportunidades e estrutura já são evidentes na prática. “Eu tive a honra de conviver com grandes sábias,que tomaram para si o controle do seu destino, acreditaram ser possível entrar em uma faculdade pública, educar melhor seus filhos, agir de forma responsável e social com toda a sua rede de relações e fazer valer sua voz de cidadã”, diz.

A estudante de educação física e professora de dança da Edisca Tatiane de Jesus Gama, 27 anos, é um bomexemplo dessa trajetória. “Aos 8 anos eu tinha o grande sonho de ser bailarina, mas minha família não tinha condições de pagar uma escola de balé clássico pra mim. Na Edisca encontrei o caminho da auto confiança, aprendi a expressar meus sentimentos e a olhar o mundo com esperança e sem medo”, diz. A bailarina e estudante Jamila de Oliveira Lopes, 18 anos, é outra ex-aluna que teve a chance de sonhar com um futuro melhor. “Atravésda arte eu ganhei valores emocionais e fiquei mais forte. E isso eu carrego sempre comigo”, diz Jamila.

Para a realização e continuidade desse projeto artístico e educativo, a Edisca conta com doações de pessoas físicas ou jurídicas. Mais informações no site: www.edisca.com.br ou pelos telefones (85) 3278-1515 (85) 3278-1515 e (85) 3401-0000 (85) 3401-0000 .
Fonte: Revista Marie Claire

As lições que o circo ensina

Por Celso Masson
Isolado por canaviais, o bairro Campos Salles, em Barra Bonita, no interior de São Paulo, corria o risco de sumir do mapa. Abandonada, a antiga estação de trem fora ocupada por três famílias que a converteram em moradia. O mato cobria suas poucas ruas de terra e já ocupava os quintais das casas. Até a escola municipal, com uma quadra poliesportiva, deixara de funcionar. Mas, antes que definhasse de vez, o povoado ganhou um sopro de vida. Há dois anos, a pedagoga paulistana Heloísa Melillo levou à prefeitura de Barra Bonita o plano de transformar a escola desativada em uma Casa de Cultura e Cidadania. O modelo seria o mesmo implementado por ela pouco antes na Vila Guacuri, uma favela na divisa entre as cidades de São Paulo e Diadema. Com sinal verde da prefeitura, em dois meses, a escola foi recuperada. A quadra, coberta, virou um picadeiro para aulas de circo e de dança. Hoje, 1.026 crianças e adolescentes passam por lá ao menos duas vezes por semana. Elas podem escolher duas atividades, de um cardápio de dez que inclui música, dança, teatro, circo, ginástica e até a arte de contar histórias. Cada aluno ganha dois lanches por dia. “Mais que ensiná-los a fazer piruetas, o projeto busca desenvolver habilidades para os desafios da vida: superar limites, ter equilíbrio, flexibilidade e coragem para se arriscar”, diz Heloísa. Jéssica Celestino da Silva, de 13 anos, concorda: “O trapézio me obriga a ficar concentrada, a prestar mais atenção”. Jéssica faz aulas de circo e dança na Casa, onde vai quatro dias por semana, sempre depois da escola.

Mas não é só de pão e circo que vivem os alunos da Casa. Algumas das salas ganharam computadores equipados com softwares livres, nos quais é possível aprender “artes digitais”, um curso que inclui técnicas de edição de vídeos, animação e tratamento de imagem. “Aprendi a fazer animação com tiras de papel”, diz Lucas Murilo Laviso, de 12 anos. “Isso me ajudou a ver o mundo de um jeito diferente.” A mudança na percepção de Lucas é resultado de um dos dois objetivos do curso. Se, do lado prático, a Casa forma técnicos para trabalhar na área da cultura, que responde por 7% do PIB brasileiro, do ponto de vista humano essa formação ajuda os jovens a se reconhecer no mundo. Eles são incentivados a documentar cenas da família e do cotidiano para montar narrativas pessoais.

Para dar suporte teórico aos programas das Casas de Cultura e Cidadania, que hoje atendem um total de 5.528 alunos, Heloísa Melillo montou um corpo de 13 curadores, que acompanham os educadores de forma contínua. Cada educador passa por 120 horas de capacitação antes de iniciar as atividades.

Quando a reportagem de ÉPOCA visitou a Casa, mais de 400 crianças e jovens assistiam a uma mostra de trabalhos dos próprios alunos e de seus educadores. Uma crença do projeto é que o conhecimento aprendido deva ser compartilhado. “Antes, nós apenas exibíamos filmes. Agora, os alunos se apresentam, são os protagonistas”, diz a educadora social Elisangela Fernandes dos Santos, de 34 anos. “Além das mostras, montamos espetáculos em eventos fora da Casa.” O calendário é intenso. “Já me apresentei 17 vezes”, diz Lucas Bertucci, de 12 anos, que também estuda teatro em Igaraçu do Tietê, cidade vizinha a Barra Bonita. “Eu gostaria de ser ator, trabalhar na televisão.” Numa das apresentações mais difíceis da Casa, os alunos de dança convidaram colegas que frequentam as academias particulares da cidade para um espetáculo coletivo, apropriadamente batizado Entrelace. “O encontro serviu para reafirmar o espírito democrático da Casa”, diz a arte-educadora em dança Viviane Carrasco, de 38.

Uma das características que distinguem esse projeto de outros da mesma natureza é a ênfase na capacitação das famílias. “Nós preparamos o jovem para um trabalho mais qualificado e também estimulamos seus familiares em direção ao empreendedorismo, seja coletivo ou individual”, diz Heloísa. “Envolver a criança, sua família e a comunidade é um dos pontos-chave do projeto, que pressupõe apoderamento e autonomia.” Um grupo formado por pais e cuidadores dos alunos se encarrega de propor formas de geração de renda. Elas vão de hortas comunitárias até cooperativas de artesanatos vendidos em bazares. Ao mesmo tempo, os alunos e suas famílias são orientados a cuidar do ambiente. Reciclar o lixo, economizar água e eletricidade, plantar árvores e manter as ruas limpas são algumas das contrapartidas que o projeto prevê. “Com isso, Campos Salles passou a ser um bairro reconhecido pela cidade”, diz Heloísa. “Era um lugar esquecido e hoje é um polo de atração de investimentos e de políticas públicas.” Hoje, quem diz em Barra Bonita que é de Campos Salles consegue até crediário nas lojas da cidade, algo impensável há dois anos.

O principal apoiador do projeto, com investimento direto de quase R$ 3 milhões por ano, além de verbas de renúncia fiscal, é a companhia AES. Ela contratou uma consultoria para monitorar os resultados e a satisfação foi de 98%. Mais que ampliar a rede de Casas de Cultura e Cidadania, que já chegaram a sete cidades, Heloísa sonha agora com o dia em que as Casas já não precisem existir. “A gente luta diariamente para se tornar desnecessário”, afirma.
Fonte: Revista Época