segunda-feira, 3 de maio de 2010

PELO VOTO CONSCIENTE

ES HOJE ouviu especialistas e a população sobre o que seria votar de forma consciente. E ainda, o que os capixabas esperam e sabem sobre os personagens envolvidos em um pleito.
Se por um lado há reclamações, indignação e protesto da sociedade civil sobre o sistema eleitoral no país, por outro, a abstenção e incredulidade do eleitor colabora para a lentidão da mudança ao entregar o poder nas mãos de governantes nem sempre competentes e comprometidos com os interesses do povo. Faltando pouco mais de seis meses para o primeiro turno das eleições, onde serão escolhidos os senadores, deputados federais, o novo governador do Estado e o Presidente da República, o cidadão capixaba ainda cobra promessas dos mandatos passados e sonham com melhorias nas áreas básicas como saúde, segurança e educação.

No Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), o cadastro eleitoral dos candidatos encontra-se aberto até o dia 05 de maio. A partir de 10 de junho surgirão, efetivamente, os candidatos ao Pleito 2010. É época também das desincompatibilizações, ou seja, a desvinculação de um potencial candidato investido em função pública. Mas, se do ponto de vista institucional os preparativos para as eleições vão de vento em polpa, nas ruas a insatisfação popular com a atual política é notória.

O ES Hoje ouviu dez cidadãos das cidades da região Metropolitana da Grande Vitória. Os sonhos, os desejos e as reclamações foram parecidos em todos os casos.Desde tratamento de água e esgoto em Vila Velha, passando pela falta de segurança em Vitória, até chegar ao caos da saúde na Serra.Já os moradores de Cariacica reclamam de todos estes quesitos juntos, além do abandono da cidade no setor de transporte público.Para estes cidadãos, que representam o eleitorado de mais de 2.478.341 pessoas do Espírito Santo, a falta de ética política ainda é o maior entrave que gera desconfiança do povo com o poder público.

Para a professora e representante de vendas Dejane Nogueira de Souza, 31 anos, os investimentos na educação são fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. "Não adianta termos Bolsa Familia, pois a pessoa fica acomodada. Criar fábricas e empregos para os pais destas crianças com esse dinheiro seria uma solução. Não é novidade que boa parte destes pais são alcoólatras. Outra questão é aplicar mais na educação integral, e olhar com carinho para as crianças. Quanto aos deputados, espero que eles criem menos leis e execute pelo menos 50% dos que já criaram. É muita burocracia, temos projetos que até hoje não saíram de pauta", opina a professora.

Dejane, que é moradora de São Pedro, em Vitória, reclama também da falta de estrutura do sistema carcerário no Estado. "Num presídio, um preso tem R$ 700,00 de cota, toda semana a família leva para ele objetos e comida. Acontece que boa parte da família dos presos continua no crime do lado de fora da cadeia. Esse dinheiro deveria ser aplicado na solução do problema da desigualdade social entre estas famílias. O preso deveria trabalhar e estudar na prisão.Precisamos urgentemente ter maior rigidez no sistema carcerário".

A professora classifica o Governo de Paulo Hartung como razoável, mas que ainda precisa de melhorias. "Eu sei que para algo acontecer na política não depende somente dele. Mas falta ética, e enquanto não existir ética ficará difícil vermos resultados efetivos. Particularmente, gostaria de me interar mais de política. Pois política é tudo, ela está nas instituições assim como no nosso cotidiano. Nós somos políticos administradores do dia a dia. Hoje, há uma omissão, o povo é excluído naturalmente do processo. Uma criança rica que estuda mais vai ter maiores chances de ter um futuro melhor em comparação à uma que trabalha para ajudar a família na periferia.Por isso, estamos fartos de tantas promessas", afirma.

Compartilha da mesma opinião da professora, o comerciante Alexandre Gonçalves da Silva, morador de Campo Grande, Cariacica. Para ele, o maior problema das eleições são as inúmeras promessas feitas de melhorias que nunca são vistas. "O que me intriga mais é o candidato estabelecer um compromisso e não cumprir, daí na próxima eleição é a mesma coisa. São sempre as mesmas promessas porque elas nunca são resolvidas. Se um político cumprisse 1/3 do que promete numa eleição, na próxima ele já não precisava assegurar a mesma coisa, já investia em outra área".

Para o comerciante, a educação teria que vir acompanhada da segurança, principalmente nas escolas onde o tráfico de drogas está se enraizando aos poucos. "Investir em segurança também é uma forma de investir nas crianças que é o futuro do país. Essa libertinagem nas escolas, o próprio tráfico de drogas deveria ser banido da nossa sociedade. A educação é prioridade, mas a segurança tem de vir junto. Na educação, é preciso não só construir prédios, centros tecnológicos, mas como valorizar os professores e dignificar a profissão. Nesse sentido, eu reprovo o governo de Paulo Hartung e também o do meu municipio".

Já para a estudante Adriane Klippel Barbosa Franco, 22, moradora de Jardim Tropical, na Serra, a situação dos prontos atendimentos, os esgotos a céu aberto e a falta de policiamento no bairro onde mora já é caso de calamidade pública. "Não acredito em políticos, a gente vê todos os dias pessoas morrendo em hospitais e o governo faz questão de mostrar que está tudo bem.Quando chego da escola à noite, só me falta saltar do ônibus e sair correndo com medo de ser assaltada.Pago meus impostos direitinho e gostaria de ter o mínimo de segurança até porque preciso estudar pra sair desta vida.Quanto ao governador, ele fez um bom trabalho dentro do que se propôs, para mim ele não cumpriu nem a metade das promessas feitas. Quem quer ver o novo Espírito Santo, basta vir aqui", protesta e estudante.

Educar para politizar a sociedade

O Professor da Faculdade de Direito de Vitória Adriano Sant'Ana Pedra, explica que o a distância entre o funcionamento do sistema eleitoral e o que pensa a população se constitui em problema grave. "Isso fica muito claro quando uma pessoa vota em uma figura e não em idéias ou partidos que é a maneira como o sistema eleitoral se estrutura. O sistema eleitoral esta preocupado em colocar no poder ideologias só que o cidadão não vota no partido, vota no seu amigo, no seu vizinho, no seu parente".

O professor, que também é Doutor em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), ressalta que em uma democracia participativa há uma necessidade maior de aproximação do povo nas decisões políticas. Não basta apenas cobrar do governo e sim ter interesse em buscar informação sobre o processo eleitoral.

"Temos um circulo vicioso: a falta de interesse que incide pela falta de educação. Pelo fato do cidadão desconhecer ele continua não tendo interesse. O eleitor continua sendo manipulado pela propaganda eleitoral, pela oratória dos candidatos, subornado em troca de emprego, por uma cesta básica ou por um saco de cimento. Tais pessoas não têm o básico em sua vida e também por não ter educação, dão muito pouco valor ao voto. Em razão de um voto vendido, por exemplo, o cidadão não vai ter escola, não vai ter posto de saúde e melhorias para sua comunidade. Sem acesso a educação, infelizmente ele continuará votando mal"

O doutor destaca que, muitas vezes, a insatisfação é consequência do próprio desconhecimento do povo sobre o processo político. "Vemos nas pesquisas, por exemplo, as pessoas dizendo insatisfeitas com vereadores. Na verdade elas não sabem o que esperar de um vereador, ou seja, quais são as aferições de um vereador. Daí, o candidato já chega prometendo coisas que são competência do Estado, coisas que são competência da União e não dele que é um representante do município. Quantas vezes vemos vereador assegurando melhorar o ensino nas faculdades, sendo que isso é competência da União. Prometendo acabar com o problema da criminalidade e fazer uma lei que para aumentar as penas, só que isso não é competência do vereador. Porém,ó eleitor que não possui discernimento, acaba embarcando nessas falsas promessas".

"Deveria existir uma educação cívica voltada para a questão política, uma educação libertadora onde as pessoas fossem emancipadas, para ter seus direitos e fazer valer suas escolhas. Enquanto a população não tiver educação não adianta ficar criando regrinhas e mais regrinhas como a questão dos 'fichas limpas'. Na verdade quem está no poder quer que as pessoas continuem omissas e tudo mais, é mais conveniente. Porém, não se deve jogar a responsabilidade apenas no Estado, é preciso que cada um faça a sua parte", finaliza.
Fonte: ES Hoje

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