sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"Mobilidade rurbana"

Enquanto as grandes cidades já não dão conta de congestionamentos estressantes e antieconômicos, o campo vem recuperando terreno graças a programas como os de agricultura familiar e de biocombustíveis. O descompasso entre os avanços na sustentabilidade rural e a falta de projetos para reduzir a poluição urbana nos obrigam a buscar um ajuste cidade-campo mediante uma política de “mobilidade rurbana”. Trata-se de uma evolução no sentido de enfocar convenientemente o problema urbano brasileiro em suas dimensões ambientais, econômicas, sociais e tecnológicas.

Para começo de conversa, temos enormes vantagens comparativas em relação ao resto do mundo no quesito sustentabilidade ambiental. O País conta com mais de 60% de cobertura florestal, recicla quantidade razoável do lixo que produz, é líder na produção de biocombustíveis e sua matriz energética possui 50% de fontes renováveis de energia, como a biomassa e a hidroeletricidade.

Entre as lições de casa que falta fazer, é primordial zerar o desmatamento na Amazônia. Aos olhos do mundo inteiro, o verde amazônico é nosso maior ativo ambiental. Livre de aspectos clandestinos recorrentes, o agronegócio brasileiro pode continuar crescendo a partir da transformação de pastagens degradadas em lavouras tecnicamente bem conduzidas. Nossa agropecuária tem condições de ser não apenas a mais dinâmica, mas a mais sustentável do globo.
Já nos grandes centros urbanos, o combate à poluição depende sobretudo da implantação de sistemas racionais de transporte coletivo, de forma a reduzir o uso de veículos individuais em deslocamentos urbanos e interurbanos. Nesse sentido, o trem-bala no eixo Campinas-São Paulo-Rio pode se tornar um novo paradigma a partir de 2016, quando o Brasil sediará as Olimpíadas.

Ainda que sua implantação seja onerosa, inovações como o trem-bala precisam apresentar alto rendimento ambiental e baixo custo operacional, combinação que depende essencialmente da forma de energia adotada. Nenhuma estratégia de “mobilidade rurbana” pode almejar o sucesso se não tiver como meta livrar as populações urbanas e rurais dos males da poluição, latu sensu.

Além de estresse, os congestionamentos causam acidentes e perdas cumulativas de tempo no trânsito. Nos grandes centros, uma pessoa fica em média 20 horas por semana dentro de veículos de transporte público. Fonte de doenças das vias respiratórias, entre outros problemas de saúde pública, a poluição do ar pela queima de combustíveis fósseis vem sendo incentivada – é preciso reconhecer – pela política industrial pró-fabricação e venda de automóveis. Aí está a maior contradição da nossa urbanização desenfreada.

Se quisermos que o Brasil seja um verdadeiro exemplo mundial de sustentabilidade, não basta defender o uso mais racional do transporte individual nos grandes centros. A simples substituição do óleo diesel pelo etanol nos ônibus urbanos poluiria 90% menos. Deslocando-se em corredores exclusivos, como já ocorre em algumas capitais, os coletivos podem tornar-se um serviço público eficiente, limpo e atraente.

Para aliviar a atmosfera de nossas comunidades urbanas, a indústria deve desenvolver motores de média e grande potência, para ônibus e caminhões, mais adaptados à combustão do etanol e ao diesel de cana. Os motores desenvolvidos no final da década de 1970 para consumir álcool, e mesmo os recentes motores flex ou bicombustíveis, devem ser aprimorados para render mais na combustão de renováveis.

De pouco adiantará construir a agropecuária mais sustentável do mundo se o Brasil não encarar o supremo desafio de reduzir seus índices de poluição e os recordes de congestionamentos nos grandes centros. Aos governos cabe não apenas formular políticas eficazes de "mobilidade rurbana", o que inclui a criação de incentivos, mas dar o exemplo em todas as suas instâncias operacionais.

E isso é só o começo de um esforço para legar um País melhor para os nossos descendentes.

Fonte: Sociedade Sustentável Portal Terra

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