quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Começa a era da inovação verde

A cada dia, surgem novas ideias e tecnologias cujo objetivo é um só: criar produtos e serviços ambientalmente sustentáveis, capazes de melhorar a saúde do planeta. Mas, afinal, por que ainda não nos deparamos com uma verdadeira onda de produtos e serviços inovadores que consigam de fato cumprir essa promessa? Por que não temos uma grande quantidade de companhias ambientalmente corretas buscando o sucesso no longo prazo? E por que ainda estamos tão distantes das condições ideais para estabelecer o paradigma de uma economia verde?

A resposta começa por uma lição simples: boas ideias e tecnologias não são suficientes. A chave para fazer com que as inovações verdes sejam duráveis e relevantes é torná-las lucrativas e atraentes para o mercado. Para serem bem-sucedidas, as “greenovations”, como nós as chamamos, têm de ser financeira e economicamente viáveis e mensuráveis. Do contrário, as boas ideias não conseguem ir além do fato de serem, tão-somente, boas intenções.

No livro Greenovate! (publicado recentemente nos Estados Unidos e ainda sem previsão de lançamento no Brasil), nós, do Centro para Inovação, Excelência e Liderança da Hult International Business School (IXL Center), selecionamos as ideias que realmente cumprem a promessa de gerar resultados financeiros e ambientais ao mesmo tempo – ou que pelo menos parecem ter potencial para isso. Compilamos histórias e aprendemos as lições da sustentabilidade a partir do esforço de líderes, empresas, ONGs e governos de todas as partes do mundo. Os casos nos mostram que existem maneiras inovadoras de se fazer dinheiro ao mesmo tempo em que se faz a diferença. Maneiras de manter o ideal de um planeta mais limpo por meios que atendem às nossas necessidades de pagar as contas do dia a dia. Imagine...

E se pudéssemos difundir as inovações verdes para países em desenvolvimento, onde há oportunidades de melhoria na saúde, na distribuição de riquezas e no ambiente para as pessoas na base da pirâmide?

Algumas empresas estão trilhando esse caminho por meio de inovações que atendem às necessidades do mundo emergente, protegem o meio ambiente e, ao mesmo tempo, dão lucro. Uma delas é a norte-americana Empower Playgrounds, que está ajudando a iluminar vilarejos do interior da África por meio de uma tecnologia que converte playgrounds infantis em fontes de energia suficientes para abastecer lanternas e luminárias. Outra é a Grameen Danone, que vem enfrentando o problema da fome em Bangladesh por meio de pequenas fábricas de iogurte ecológico – que não só geram muitos empregos como também dão um bom lucro. Já a Bloom Energy fornece pequenos geradores movidos a célula de combustível que são capazes de abastecer famílias inteiras em locais que ficam distantes dos grandes centros urbanos. Enquanto isso, a Olam, de Cingapura, procura atrair os interesses do capital privado, de instituições públicas e de pequenos agricultores. O resultado desse modelo de negócios é um novo e revolucionário sistema de mercado que eleva a quantidade e a qualidade da produção de um insumo básico, o arroz, ao mesmo tempo em que multiplica a renda dos produtores agrícolas.

E se encontrássemos novas maneiras de criar energia alternativa, reduzindo dramaticamente a nossa dependência em relação aos combustíveis fósseis, que são poluentes e caros?
Alguns avanços tecnológicos vêm tornando a energia solar cada vez mais acessível em termos de custo e flexibilidade de uso. A Energy Innovations, da Califórnia, criou uma tecnologia que reduz dramaticamente o custo da captação solar. Já a Nanosolar e a Konarka estão desenvolvendo novas maneiras de produzir células fotovoltaicas. São soluções simples e com grande potencial para mudar os atuais paradigmas do mercado energético. É claro que muitas dessas inovações estão restritas a um grupo de empresas que dominam tecnologias de ponta. Mas isso não significa que a nova energia será um privilégio dessa pequena elite. Há várias companhias desenvolvendo soluções promissoras, mas com baixa intensidade tecnológica. Na África, por exemplo, temos a Empower Playgrounds (citada na página anterior) e também a Nov Mono, uma companhia australiana que utiliza a energia solar e cinética para abastecer um sistema que leva água potável a vilas carentes no interior do continente.

E se reciclássemos os resíduos dos nossos processos industriais, transformando em matérias-primas ou em combustíveis eficientes todo aquele lixo que hoje é jogado nos milhares de aterros sanitários que cobrem o nosso planeta?

Nesse quesito, poucas companhias são tão bem-sucedidas quanto a Patagonia e a Terracycle. Ambas atingiram um patamar invejável: quase todas as suas matérias-primas vêm de insumos reciclados e de baixíssimo custo. O curioso é que, enquanto a Patagônia se tornou uma referência no mercado de vestuário esportivo, a Terracycle se destacou no setor de embalagens. Outro caso interessante é o da Greenbox, que oferece caixas rígidas, produzidas a partir de plástico reciclado, para quem deseja fazer mudanças de forma mais organizada e prática – e sem recorrer às velhas e frágeis caixas de papelão descartável. Na Indonésia, a Don Bosco transforma óleo de cozinha usado em um inusitado combustível para ônibus. Já a Big Belly desenvolveu uma lata de lixo inteligente, movida a energia solar, que compacta os dejetos e ajuda a reduzir os custos dos sistemas de recolhimento de lixo urbano. Isso sem contar a PFNC, cujo modelo de negócio se baseia na reciclagem de contêineres.

E se parássemos para refletir sobre a maneira como usamos a energia e buscássemos novas formas de reduzir os enormes desperdícios causados por sistemas ineficientes e desleixados? E se encontrássemos novas maneiras de racionar o uso da energia, tornando-o mais eficiente e menos custoso?

Recentemente, a canadense Bombardier deu início a um ambicioso projeto para desenvolver meios de reduzir o consumo de combustível em aeronaves. A gigante da logística UPS vem trilhando um caminho semelhante: com uma simples mudança na forma de aterrissar seus aviões, a empresa conseguiu economizar combustível e diminuir a poluição sonora. A Toyota desenvolveu o Prius, o primeiro automóvel movido tanto a energia elétrica quanto a gasolina comum – o que deu origem ao mercado global de veículos híbridos. Enquanto isso, a Tesla obtém avanços importantes na criação de um mercado para automóveis totalmente elétricos e é seguida de perto pela Bosch e pela Better Place, que desenvolvem meios complementares de maximizar o rendimento desse tipo de automóvel. Correndo por fora, a BAE Systems gerou grande repercussão ao estender a tecnologia de motores híbridos para veículos grandes – tais como ônibus urbanos. A ação “Um Laptop por Criança” e a Tesco, ainda que envolvidas em áreas diferentes, vêm realizando esforços para redução de custos e utilização de energia na cadeia de produção de suas redes.

E se melhorássemos os processos relacionados à agricultura e à produção de alimentos, tornando a comida acessível e o cultivo, sustentável? E se reduzíssemos a geração de resíduos a níveis nunca vistos?


Criar e consolidar altos padrões de produção agrícola, capazes de aumentar a produtividade nas lavouras existentes e preservar florestas tropicais, é a contribuição da Rainforest Alliance. No Paquistão e na Índia, as fazendas-escola da Ikea educam os produtores de algodão para que eles adotem métodos de cultivo mais baratos e menos tóxicos, preservando a base de sua cadeia de produção – a terra. Os sistemas de gotejamento da Netafim proporcionam incríveis economias de água ao mesmo tempo em que melhoram a qualidade da irrigação em grandes lavouras. A norte-americana Dairyland Power foi a primeira a converter lixo em energia para a produção agrícola, enquanto a BP Energy India adotou um modelo de negócios inovador que permite distribuir sistemas de cozimento sustentável nos mais longíquos cantos da zona rural da Índia.

E se criássemos materiais de construção mais eficientes e ambientalmente corretos, atacando, assim, uma das principais fontes de emissões de gases estufa e resíduos sólidos que existem atualmente?

Do planejamento à execução, algumas iniciativas vêm gerando grandes avanços nos índices de consumo e desperdício da construção civil. O grupo LEED, por exemplo, detém um processo de certificação que premia as construtoras por empreendimentos e estruturas ambientalmente corretos. Ainda que atuem em mercados diferentes, a Axion e a Walltech conseguiram reduzir seu volume de resíduos ao mesmo tempo em que elevaram o desempenho de materiais e processos empregados nas obras. Já a torre do Bank of America, construída recentemente, reflete uma decisão do banco de estabelecer padrões verdes para a construção de arranha-céus. As tecnologias utilizadas não só minimizam a pegada carbônica da empresa como aprimoram a operação do prédio em si.

E se adotássemos sistemas mais inteligentes para conservar a energia, obtendo reduções no custo de geração e nos volumes de emissão de carbono?

Hoje, com o poder de análise permitido pela informática, temos condições de encontrar oportunidades inéditas de melhoria no uso de energia – e em áreas até então inimagináveis. As possibilidades são quase infinitas e, além de gerar ganhos ambientais, rendem excelentes fontes de receita e lucro. As norte-americanas Cisco Energywise, Oberlin College e Progressive Insurance são bons exemplos: embora atuem em áreas bastante distintas, elas adotaram meios de informar o montante de energia que cada cliente utiliza – o que gera um estímulo contundente para o uso racional. Em uma escala muito maior, há o programa E-Street, lançado pela cúpula da União Europeia. Beneficiado pela visão de líderes de governo que financiam um grande número de agentes privados, o E-Street vem difundindo iniciativas verdes com potencial para conter e até mesmo solucionar os grandes problemas causados pelas mudanças climáticas.
Fonte: Amanhã

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