segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Leilão para escolas

Impressionado com a alta taxa de analfabetismo de milhares de jovens de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo e a quinta maior do Brasil, habitada por cerca de 80 mil moradores, o cabeleireiro Wanderley Nunes organizou um leilão beneficente em prol da comunidade. O evento, marcado para segunda-feira (16), no Buddha Bar, em São Paulo, visa a angariar fundos para fortalecer o projeto Escola do Povo, que promove a alfabetização de jovens e insere cursos profissionalizantes, de cabeleireiro, cozinheiro e estilista, na formação escolar. “São 15 mil jovens precisando de estudo e vamos oferecer escola técnica para eles”, disse Nunes, que pretende arrecadar mais de 3,8 milhões de reais com as peças leiloadas.

Influente no meio artístico, o cabeleireiro, que começou a trabalhar aos 12 anos, como engraxate na barbearia do pai, em Maringá (PR), conseguiu juntar dezenas de peças valiosas de seus clientes e amigos famosos, como o músico Bono Vox, o modelo Jesus Luz e as atrizes Christine Fernandes e Claudia Raia. “Ainda estou esperando alguma doação da Madonna, e a atriz americana Mariel Hemingway já confirmou presença no evento”, afirmou Wanderley. Enquanto recebia a reportagem de QUEM em seu salão, o Studio W, no Shopping Iguatemi, peças doadas por artistas continuavam chegando, como um retrato doado por Luciano Huck e um quadro do artista plástico americano Jay Milder, avaliado em cerca de 1 milhão de reais.

DESIGUALDADE SOCIAL
“Os governos e as comunidades têm que ver que é possível se organizar para combater os problemas”, disse Gilson Rodrigues, presidente da União dos Moradores de Paraisópolis e coordenador do projeto. Para o líder comunitário, os moradores, em sua maioria nordestinos que buscam uma vida melhor em São Paulo, sofrem preconceito por causa do analfabetismo. “O principal motivo de desigualdade social é a ausência de escolas. Ninguém quer dar emprego a quem não sabe ler e escrever”, falou Rodrigues.

Uma das histórias que motivou a iniciativa de Wanderley foi a de Luciana Rodrigues da Silva, que, aos 14 anos, abandonou os estudos, em Palmares, no interior de Pernambuco, para seguir com a família em busca de oportunidades em São Paulo. Na capital paulista, a menina foi morar em Paraisópolis e começou a trabalhar como empregada doméstica. Em 2007, quando fez 22 anos, procurou a Escola do Povo e conseguiu voltar a estudar. “Pedi para meus patrões me darem um caderno. Até para limpar o chão é preciso ter ensino completo”, disse Luciana. No ano passado, quando começou a cursar o 9º ano do ensino fundamental por meio do projeto, a jovem deixou o antigo emprego e passou a dar aulas a crianças. “Minha meta agora é fazer faculdade”, afirmou. “Com o Wanderley, que é uma pessoa pública, levantando essa bandeira, sei que vamos mudar a vida das próximas gerações”, afirmou o coordenador do projeto Escola do Povo.
Fonte: Revista Quem

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